Terapia com células-tronco leva paraplégico a mexer as pernas

Os resultados iniciais relativos ao transplante de células-tronco em pacientes que sofreram trauma raquimedular começam a ganhar forma a partir dos primeiros movimentos de um policial militar de 47 anos. Submetido à aplicação de células-tronco mesenquimais em abril deste ano, o policial já apresenta, após intensivas sessões de fisioterapia, melhoras substantivas, recuperando a sensibilidade dos membros inferiores e controlando a musculatura da região, além de aumentar a massa muscular da perna e da coxa.

O fato de o paciente conseguir pedalar e ficar de pé, com o auxílio de um equipamento chamado espaldar, animou a equipe de pesquisadores do Centro de Biotecnologia e Terapia Celular (CBTC), que é fruto de uma parceria entre o Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz (CPqGM/Fiocruz Bahia) e o Hospital São Rafael, de Salvador. A expectativa de que o paciente fosse capaz de controlar os esfíncteres, como a bexiga, também se concretizou, mesmo após nove anos imobilizado numa cadeira de rodas, em função de acidente. A cirurgia de implantação das células-tronco ocorreu no Hospital Espanhol, que também participa do projeto. Pesquisas neste sentido foram iniciadas há cinco anos.

O estudo, pioneiro no mundo, deverá ser concluído em dois anos, com a participação de 20 voluntários, todos paraplégicos. Segundo a pesquisadora da Fiocruz Bahia Milena Soares, o fato do CBTC dispor de um centro de tecnologia celular foi decisivo para que o experimento ocorresse. “O espaço, um dos três em funcionamento no Brasil, garante que a cultura de células-tronco para aplicação em ensaio clínico seja realizada com boas práticas de manufatura”, explica.

Milena estima que, até o final deste ano, entre 10 e 12 pessoas deverão participar do experimento. Recentemente foram realizados dois transplantes. A pesquisadora esclarece que o limite para a quantidade de participantes no projeto está, entre outros fatores, nas atividades de fisioterapia, uma vez que os pacientes precisam de diversas sessões.

O início dos testes em humanos foi precedido de estudos em cães e gatos, que conseguiram melhorar o controle dos esfíncteres, ganharam sensibilidade e recuperaram, em graus variados, os movimentos. A coleta de células para os ensaios clínicos ocorre entre três e quatro semanas antes do procedimento cirúrgico. A quantidade aplicada depende da lesão de cada paciente. Milena explica que, em estudos realizados em camundongos, a aplicação das células-troncos com trauma raquimedular promoveu a redução da fibrose, que diminui a passagem dos impulsos cerebrais, além de promover o crescimento de outras células, irrigando os vasos sanguíneos.

Atualmente, o CBTC, que também é coordenado pelo pesquisador Ricardo Ribeiro dos Santos, da Fiocruz Bahia, desenvolve pesquisas em doenças cardiovasculares, hepáticas, neurológicas, renais, diabetes, assim como em envelhecimento e neoplasias. Em relação às doenças cardiovasculares, está em desenvolvimento o projeto Identificação de marcadores de progressão da forma indeterminada para a cardiopatia chagásica crônica e desenvolvimento de novas terapias para a doença de Chagas. “Novos estudos serão iniciados com pacientes vítimas de cirrose”, adianta Milena.