Hoje vamos discutir um assunto que há muitos anos gera controvérsia.
O infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST).
Tratar somente a lesão culpada ou revascularização completa?
Um primeiro dado interessante: 50% dos pacientes com IAMCSST apresentam doença multiarterial, gerando pior prognóstico a longo prazo.
A discussão está embasada sobre o quesito que as lesões “não culpadas” são assintomáticas ou geram isquemia discreta, ou seja, não seria necessário tratar as mesmas: LESÕES CRÔNICAS DE BAIXO RISCO.
O lado oposto estabelece que a doença coronária encontra-se em todo o território coronariano, além da lesão culpada, com placas instáveis, com novos eventos isquêmicos futuros: LESÕES INSTÁVEIS E EVENTOS ADVERSOS FUTUROS.
Vamos discutir o seguinte estudo:
O CvLPRIT (2015): 296 Pacientes em 2015, comparou revascularização completa vs vaso único.
Lesões significativas quando >70% ou 50% em 2 projeções ortogonais, por estimativa visual.
Diminuição importante do desfecho primário composto por morte, infarto, ICC, e reintervenção, com significativa importância no evento duro composto por morte por todas as causas e infarto (10% vs 18,5%).
Dado I IMPORTANTE: SEGUIMENTO DE 66 MESES, o maior até o momento.
Dado II IMPORTANTE: O BENEFÍCIO FOI PRINCIPALMENTE QUANDO REALIZADA NA FASE INICIAL.
O autor faz menção a outros trials na Editorial como o recente COMPLETE (4041 pacientes, lesão considerada significativa > 70% por estimativa visual ou 50-70% e FFR < 80%), tendo uma diferença do desfecho primário composto (morte cardiovascular e IAM) a favor da revascularização completa de 7,8% vs 10,5%, sendo a diferença marcada pela diminuição do IAM. O benefício foi marcado a longo prazo, e o procedimento podia ser realizado imediatamente ou até 45 dias.
A utilização do FFR, quando disponível é importante, a final estamos frente a uma avaliação funcional e não somente anatômica/visual.
O tratamento em até 45 dias, demonstra também o que realizado na pratica clinica diária. Tratamento da lesão culpada e novo procedimento na mesma internação ou retorno precoce através do estadiamento das outras lesões.
É importante destacar que a diminuição do risco relativo tão importante nos estudos citados (PRAMI-CvLPRIT, DANAMI3-PRIMULTI-COMPARE ACUTE E COMPLETE) possa estar superestimado devido ao manejo conservador no grupo controle sobre as lesões não culpadas.
Na hora de decidir o tratamento considerar os seguintes fatores:
- Idade- comorbidades- fragilidade do paciente;
- Apresentação clínica (choque cardiogênico por exemplo, considerado no CULPRIT-SHOCK demonstrou aumento de mortalidade / necessidade de hemodiálise quando optado por tratar todas as lesões, logo a recomendação e tratar somente a lesão culpada neste tipo de pacientes);
- Severidade e complexidade da lesão culpada;
- Experiência do hemodinamicista.
No entanto estes estudos podem gerar uma mudança nas diretrizes, no momento como Classe IIa conforme o Guideline da ESC 2017.
Vamos finalizando com uma reflexão do autor através de duas questões importantes:
1) Qual é o melhor método para avaliar o grau de severidade das lesões?
A) A estimativa visual (lesões de 50 a 70% conforme diferentes estudos).
2) Quando é o momento indicado para o procedimento? Imediatamente durante a hospitalização ou até 45 dias como no COMPLETE em alguns casos.
O MÉTODO DE ESCOLHA para definir lesão significativa assim como o TEMPO ÓTIMO para realizar o procedimento ainda são dúvidas…
Dr. Horacio Eduardo Veronesi
- Formado em Medicina pela Universidad Nacional de Rosario (Arg)
- Residência em Cardiologia pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (SP)
- Residência em Ecocardiografia pelo Instituto Nacional de Cardiologia (RJ)