Encontro nos EUA apresenta novidades contra a leucemia

O encontro anual da Sociedade Americana de Hematologia reuniu diversas inovações no tratamento da leucemia, tipo de câncer que se origina na medula óssea e atinge o sangue. O evento teve início no dia 8 de dezembro, e vai até o dia 11, na cidade de Atlanta, nos Estados Unidos. O site de VEJA reuniu os principais avanços apresentados neste fim de semana na lista abaixo:

Três tratamentos em estudo para a leucemia

Novo medicamento
Pesquisadores de dez centros médicos nos Estados Unidos e na Europa testaram um medicamento que reverteu o quadro de leucemia em mais de um terço dos participantes.

O estudo foi realizado com 137 pacientes com leucemia mieloide aguda (LMA), uma variação da doença, de avanço rápido, que ocorre tanto em adultos quanto em crianças. A maior parte desses pacientes (99) apresentava mutações no gene FLT3-ITD, que é responsável pela produção de uma enzima que faz com que as células-tronco da medula óssea se multipliquem. Mutações nesse gene fazem com que a produção da enzima aumente, fazendo com que a doença se desenvolva de forma mais rápida.

Os pacientes que apresentam a mutação no gene FLT3-ITD costumam precisar de quimioterapia intensiva para atingir o estado de remissão (quando o câncer desaparece por um tempo depois do tratamento) e assim, poderem ser submetidos ao transplante de medula óssea.

De acordo com Mark Levis, integrante da equipe de pesquisadores, até três quartos dos adultos com esse tipo de leucemia atingem um estado de remissão da doença com a quimioterapia, mas há 50% de chances de ela voltar, podendo até ser fatal. A maioria dos participantes do estudo já haviam tentado outras formas de tratamento, sem obter sucesso.

O medicamento testado, denominado Quizartinib, bloqueia a produção da enzima relacionada ao gene FLT3- ITD. Dentre os pacientes que apresentavam a mutação no gene, 44% tiveram remissão completa, ou seja, um estágio em que não há mais sinais da doença. Ainda assim, eles precisaram de transfusões de sangue e plaquetas. Já entre o total dos participantes, 34% puderam fazer o transplante de medula óssea após o tratamento com Quizartinib.

O medicamento apresentou alguns efeitos colaterais, como náuseas e anemia, e 10% dos participantes tiveram que suspender o uso. Segundo Levis, os pesquisadores estão agora testando doses mais baixas do medicamento.

Remédio diminui a rejeição após transplante
Um novo medicamento reduz as chances de pacientes que recebem transplante de medula óssea desenvolverem efeitos colaterais, que podem ser fatais.

O estudo foi realizado nas Universidades americanas de Michigan e Washington, com 47 pacientes que receberam transplante de medula com células doadas por parentes. Além da medicação normalmente utilizada após transplantes, os pacientes receberam um medicamento denominado vorinostat, atualmente utilizado no tratamento de alguns tipos de câncer.
Dentre os participantes, apenas 21% desenvolveram uma reação denominada doença do enxerto contra hospedeiro, na qual as células recebidas começam atacar outras células do organismo do paciente. Sem a utilização do vorinostat, a média de pacientes que desenvolvem esse quadro é de 42%.
Os pesquisadores querem agora testar o medicamento em pacientes que recebem o transplante de doadores que não são da família. De modo geral, esses casos apresentam maiores riscos de desenvolverem a reação.

Células geneticamente modificadas
Linfócitos T, células do sistema imunológico, foram geneticamente modificados por pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, para atacar tumores de pacientes com leucemia.
O tratamento foi testado em doze pacientes com câncer em estágios avançados, sendo dez adultos com leucemia linfoide crônica, que costuma aparecer em pessoas com mais de 55 anos, e duas crianças com leucemia linfoide aguda, o tipo mais comum em crianças. Dentre eles, nove participantes responderam positivamente ao tratamento com linfócitos T.
Dois dos três primeiros pacientes a receberem esse tratamento com células modificadas ainda apresentam a doença em estado de remissão (quando o câncer desaparece por um tempo depois do tratamento), depois de mais de dois anos. Para Carl June, um dos pesquisadores do grupo, é possível que no futuro essa técnica reduza ou até substitua a necessidade de transplantes de medula óssea.
As células geneticamente modificadas têm como objetivo atacar células que expressam uma proteína denominada CD19, o que inclui as células tumorais de ambos os tipo de leucemia estudados, além dos linfócitos B, responsáveis pela produção de anticorpos. Os linfócitos T também são capazes de se multiplicar, constituindo um verdadeiro “exército”, até que todas as células tumorais sejam destruídas.
Como esse tratamento provoca a destruição dos linfócitos B normais, que são importantes no combate a infecções, os pacientes estão recebendo tratamento com imunoglobulina, de forma a prevenir o aparecimento de infecções.