47% dos médicos de São Paulo não têm especialização

Um estudo realizado pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) revelou que apenas 53% dos 92.580 médicos que atuam no Estado têm algum tipo de especialização médica (como ginecologia, cardiologia ou oftalmologia). O restante trabalha apenas com a graduação normal de seis anos em medicina, o que fornece uma “formação generalista”, segundo o presidente do órgão, Henrique Carlos Gonçalves.

O estudo foi realizado com base em três bancos de dados diferentes: o do próprio Cremesp; o da CNRM (Conselho Nacional de Residência Médica) e os dados das sociedades de cada especialidade.

“O médico, pela lei, pode atuar em qualquer área, em todas as especialidades, desde que tenha terminado a graduação. O Cremesp atua apenas como um cartório e só carimba o diploma”, diz Gonçalves. “O número é preocupante, o ideal seria de 100%”, completa.

Para o conselho, a situação é preocupante, principalmente porque a tendência é piorar. Uma das principais causas do problema é a discrepância entre o número de faculdades de medicina e o de vagas para a residência. Os dados levantados mostram que há em São Paulo cerca de 2.300 formandos por ano, para cerca de 3.000 vagas de residência médica. Apesar do maior número de vagas, o déficit ocorre porque estudantes de outros Estados procuram as vagas de São Paulo para especialização.

“Cerca de 30% dos estudantes de medicina ficam sem vagas em São Paulo. No Brasil inteiro, esse número aumenta para 40%”, diz Gonçalves. E a tendência é a de que o problema se agrave porque as regras para a criação de uma vaga em residência médica são muito mais rigorosas que a da criação de uma faculdade de medicina, porque as entidades de cada especialidade acompanham o processo.

Uma das soluções defendidas por Gonçalves é a restrição ou “moratória” nos vestibulares de medicina. “Agora não precisamos de mais médicos”, diz. “Sou a favor de paralisar os vestibulares por um tempo. O médico que faz uma faculdade boa melhora, porque consegue uma boa residência. Os que fizeram uma ruim, não têm vagas e ficam parados”, resume.

O Cremesp não pode impedir que um médico não titulado trabalhe apenas com uma especialidade, mas, segundo Gonçalves, o mercado já vem amenizando o problema. No caso dos hospitais particulares, a maioria exige que o profssional tenha em seu currículo uma especialização, principalmente para evitar pedidos de reparação de danos de pacientes sob alegação de imperícia. No caso do sistema público de saúde, a exigência começou há cerca de quinze anos nos concursos públicos.

Perfil

O estudo mostra que cinco especialidades concentram quase 50% do total de especialistas do Estado. Cerca de 15% dos especialistas são ginecologistas e obstetras; 11,7 são pediatras; 7,1 fizeram especialização em cirurgia geral; 6,8% fizeram clínica médica e 6,5% são cardiologistas. Legalmente há 53 especialidades, mas o Cremesp agrupa angiologia e cirurgia vascular em uma única especialidade.

Fonte: Folha Online