Teste de pele para detectar o Mal de Alzheimer

Um novo exame que detecta enzimas disfuncionais nos pacientes com o Mal de Alzheimer, encontrada tanto nas células cerebrais quanto nas cutâneas, está prestes a ser testado em grandes pesquisas. Os pesquisadores da Blanchette Rockefeller Neurosciences Institute (BRNI), centro de estudos da memória e de doenças relacionadas, em Morgantown, no estado de West Virginia, nos Estados Unidos, que desenvolveu a técnica de diagnóstico, receberam a aprovação do Food and Drug Administration, órgão americano regulamentador dos alimentos e remédios, para teste em humanos de medicamentos que ativam a enzima, mecanismo novo de tratamento para o Mal de Alzheimer.

Nos testes preliminares, o exame de pele pode identificar, com precisão, se o paciente é portador do Mal de Alzheimer. Em maio o BRNI firmou uma parceria com o Inverness Medical Innovations, empresa americana de diagnósticos médicos, em Waltham, no estado de Massachusetts, Estados Unidos, que financiará a pesquisa com milhares de pacientes. Este processo é necessário para formalizar a comercialização dos testes.

Atualmente, o Mal de Alzheimer só pode ser diagnosticado com precisão por meio de autópsia, ou seja, após o óbito do paciente. Os médicos diagnosticam a doença em seus pacientes com uma combinação de testes cognitivos que avaliam a função mental, um exame neurológico, e varreduras no cérebro para eliminar outros problemas, tais como derrame ou tumores no cérebro. Porém pode ser difícil distinguir o Alzheimer de outras formas de demência, especialmente nos primeiros estágios da doença.

“Nós precisamos de exames de diagnóstico que funcionam em pessoas que não respondem muito bem aos testes cognitivos e com risco de Alzheimer, assim, no futuro, poderia se modificar as terapias que retardam o início ou a progressão da doença”, afirma Sid Gilman, diretor do Michigan Alzheimer’s Disease Research Center, centro de estudo da doença da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Um método para diagnosticar, com precisão, o paciente no início da doença pode também ajudar durante o processo de desenvolvimento destas terapias, permitindo que os médicos testem medicamentos somente naqueles que precisam.

O novo teste, desenvolvido por Daniel Alkon, diretor científico da BRNI, destaca um grupo de enzimas chamado PKC (Proteína Cinase C), que participa do armazenamento de memórias a longo prazo. Alkon e sua equipe concluíram que um seleto grupo destas enzimas se torna disfuncional nos pacientes com Alzheimer, tanto nos neurônios quanto nas células epiteliais. Mesmo o Mal de Alzheimer sendo considerado uma patologia do sistema nervoso, pesquisas feitas na última década encontraram sinais da doença fora do cérebro. Sendo assim, nos testes com animais, onde estas enzimas eram ativadas, os sintomas foram aliviados, impedindo a perda de memória assim como as agregações anormais de proteína no cérebro.

Para realizar o teste, médicos coletam uma pequena amostra das células da pele. Pesquisadores adicionam uma molécula inflamatória específica chamada “bradykinin”, que ativa as PKCs sob circunstâncias normais; uma resposta disfuncional sugere a presença do Alzheimer. Os resultados iniciais do estudo, com 600 pacientes, são promissores: o teste diagnosticou com segurança 36 de 37 pacientes confirmados em autópsia com a doença, assim como 5 pacientes que tiveram o exame negativo em autópsia.

O teste desenvolvido por Alkon é apenas um no meio de vários outros estudos para detectar antecipadamente o Mal de Alzheimer, incluindo a medição de moléculas ligadas à doença no sangue e no líquido cerebrospinal, como também um novo teste com imagens do cérebro que detectam marcadores do Mal de Alzheimer, tal como o acúmulo da proteína beta-amiloide, mais uma indicação da doença. “Certo número de testes tem obtido sucesso na identificação de pacientes com Alzheimer, mas eles ainda não foram comparados com outras doenças neurológicas como Esclerose Lateral Amiotrófica, distúrbios caracterizados por fraqueza muscular e atrofia por denervação”, diz Gilman.

A nova pesquisa é “interessante e promissora, mas nós precisamos conhecer o quanto estes testes poderão ajudar”, afirma Gilman. “Há um histórico de testes que viraram manchete e depois desapareceram silenciosamente”, continua.

Alkon ressaltou que o teste de pele pode distinguir entre outros tipos de doenças neurológicas, tais como o Mal de Parkinson, Huntington e Corpo de Lewy. Ele também espera, em um futuro próximo, poder confirmar o Mal de Alzheimer em um paciente dentro de quatro anos em que for verificado um problema de memória. O diagnóstico clínico dentro deste período tem exatidão em 55% dos casos.

Alkon também está planejando uma pequena pesquisa clínica de um medicamento experimental chamado “bryostatin”, originalmente testado como um remédio anti-câncer, em pacientes com Alzheimer. Em baixas concentrações, o medicamento ativa os PKCs. Desenvolver medicamentos que ativam os PKCs é complicado pois isso, em alguns casos, pode provocar a formação de tumores. Porém Alkon afirmou que identificou variações estruturais nestas moléculas que permitem saber qual é o potencial de causa de tumores. Sua equipe desenvolveu uma quantidade de novos ativadores de PKC, que ele espera testar nas próximas pesquisas clínicas.

Fonte: Portal WebMD