Resistência a remédios contra HIV aumenta na África

No leste do continente, o número de pacientes resistentes aos antirretrovirais cresceu 29% por ano – a maior taxa entre as regiões pesquisadas

Pelo menos 90% das pessoas com Aids vivem em países de baixa e média renda, sobretudo no continente africano. Em resposta a essa tendência, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incentivou, no começo dos anos 2000, um programa de tratamento com antirretrovirais nessas nações – desde então, mais de sete milhões de indivíduos passaram a receber os medicamentos. Uma consequência da aplicação ampla desse tipo de tratamento é o surgimento de versões resistentes do vírus HIV, contra os quais pelo menos um dos remédios antirretrovirais deixa de fazer efeito. Agora, uma pesquisa publicada na revista online Lancet sugere que houve aumento no número de casos de HIV resistente a antirretrovirais na África subsaariana ao longo desse período.

“Se não houver esforços nacionais e internacionais, o aumento da resistência do vírus pode ameaçar a tendência de queda no número de mortes relacionadas ao HIV nos países mais pobres”, diz Silvia Bertagnolio, pesquisadora da OMS e coordenadora do estudo, em comunicado enviado à imprensa.

Para chegar ao resultado, os pesquisadores analisaram 162 relatórios e 27 estudos não publicados, que avaliaram 26 mil pessoas de países da África Subsaariana, Ásia e América Latina.

A região onde a resistência do vírus cresceu de forma mais rápida foi o leste da África. Ali, o número de doentes nos quais um dos antirretrovirais não fez efeito subiu 29% por ano, chegando a atingir 7,4% dos casos de HIV. O resultado é maior que o do sul da África, onde o número de casos subiu 14% ao ano, para 3% do total.

Os pesquisadores não perceberam uma mudança dessa porcentagem nos países do centro e oeste da África. Na América Latina, o nível de resistência manteve-se em 6,9% em todo o período. A heterogeneidade entre os países da Ásia impediu que os cientistas fizessem estimativas para a região.

Explicação – A pesquisadora diz que esses níveis de resistência do vírus não são inesperados, já que houve uma expansão do tratamento com antirretrovirais no período. “Em 2011, quase 8 milhões de pessoas receberam o tratamento nesses países, um número 26 vezes maior que o de 2003”, afirma Silvia Bertagnolio.

Os cientistas afirmam que programas amplos, porém falhos, de tratamento com antirretrovirais podem resultar em maior resistência do vírus. Uma solução seria diminuir a frequência de erros que acabam levando à interrupção do tratamento, como uma rede fraca de distribuição de remédios ou baixos estoques dos mesmos. Outro fator que contribui para o problema pode ser a dificuldade que os cientistas dessas regiões têm para diagnosticar os novos casos de resistência do HIV, levando à disseminação do novo vírus.