Atividade Física no Paciente Portador de Valvopatia

CardioAula - Médico escrevendo coração de ECG

A prática de atividade física apresenta papel de destaque no cenário não só da cardiologia, como da saúde de uma forma global. O exercício físico promove alterações benéficas em diversos órgãos e sistemas do corpo humano, incluindo o sistema cardiocirculatório.(1)

As doenças valvares cardíacas são comuns em países como o Brasil, ainda com elevada incidência de febre reumática As alterações fisiopatológicas da doença valvar permitem que o portador desta afecção permaneça
assintomático por períodos prolongados, muitas vezes já com disfunção ventricular esquerda estabelecida e a atividade física pode alterar de forma aguda e substancial as condições de pré e pós-carga, acrescentando sobrecarga hemodinâmica ao paciente valvopata.(2) Tradicionalmente nesse contexto, a prescrição de atividade física deve ser feita após a correção cirúrgica, pois numa situação de esforço físico, as condições hemodinâmicas podem precipitar o aparecimento de sintomas, ausente nas condições de repouso.(3)

As recomendações atuais se baseiam em poucos estudos randozimados4 e outros não randozimados (3,5,6), sem quantidade expressiva de pacientes. A classificação atual de atividade física é definida pelo tipo da
atividade e sua intensidade7. Atividades dinâmicas ou isotônicas são caracterizadas por grandes movimentações articulares com envolvimento dos grandes grupamentos musculares (classificadas de A até C). Hemodinamicamente apresentam aumento do consumo de O2, elevação da frequência cardíaca (FC), do débito cardíaco e da pressão arterial sistólica e média com redução de pressão arterial diastólica e resistência vascular periférica, levando a um estresse volumétrico mais acentuado.7,8 Atividades estáticas ou isométricas são caracterizadas por pouca movimentação articular levando a elevação da pressão arterial sistólica, média e diastólica com aumento do estresse pressórico mais pronunciado (Classificadas de I até III).(7-9)

A prática de atividade física não apresenta influência na evolução anatômica e hemodinâmica da doença valvar. Por exemplo, paciente com esclerose de valva aórtica não apresenta piora evolutiva em caso de atividade
física regular do paciente.(10)

A prática desportiva, incluindo as competitivas são considerados para os estágios A e B (Classificação da American Heart Association – AHA(11)), muitas vezes sem restrições. Já os pacientes no estágio C com indicação cirúrgica e os do estágio D não são candidatos para competição e devem ser encaminhados para a cirurgia de correção da valvopatia. Para tornar mais simples a compreensão e facilitar o emprego prático das indicações, separei as valvopatias em sobrecargas pressóricas e volumétricas e segundo a classificação da AHA, resumimos nas imagens a seguir os graus de indicação segundo Bonow.(12)

Para os pacientes em estágios A ou B, sempre está indicado um teste ergométrico máximo pré-participação, para melhor avaliar a classe funcional do indivíduo e a reavaliação deve ocorrer ao menos de forma anual ou
individualizada nos casos específicos. Atividades físicas de leve intensidade, como caminhada leve, sem o objetivo de treinamento ou melhora de performance não apresentam contraindicação e sua privação deve ser evitada, exceto sob orientação médica específica.(12)

CardioAula - Médico escrevendo coração de ECG

CardioAula - Médico escrevendo coração de ECG

CardioAula - Médico escrevendo coração de ECG

Referências Bibliográficas

1 – Wen CP, Wai JPM, Tsai MK, et al. Minimum amount of physical activity for reduced mortality and extended life expectancy: a prospective cohort study. Lancet 2011;378:1244-1253.

2 – Gielen S, Laughlin MH, OConner C, Duncker DJ. Exercise training in patients with heart disease: review of beneficial effects and clinical recommendations. Prog Cardiovasc Dis. 2015 Jan-Feb;57(4):347-55.

3 – Jairath N, Salerno T, Chapman J, Dornan J, Weisel R. The effect of moderate exercise training on oxygen uptake post-aortic/mitral valve surgery. J Cardiopulm Rehabil 1995;15:424-430.

4 – Sire S. Physical training and occupational rehabilitation after aortic valve replacement. Eur. Heart J. 1987;8:1215-1220.

5 – Habel-Verge C, Landry F, Desaulniers D, et al. [Physical fitness improves after mitral valve replacement]. CMAJ 1987;136:142-147.

6 – Newell JP, Kappagoda CT, Stoker JB, Deverall PB, Watson DA, Linden RJ. Physical training after heart valve replacement. Br Heart J 1980;44:638-649.

7 – Mitchell JH, Haskell WL, Raven PB. Classification of sports. Med Sci Sports Exerc. 1994;26:S242-S245.

8 – Ghorayeb N, Barros T. O exercício, preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos. São Paulo: Atheneu; 1999.

9 – Tarasoutchi F, Katz M, Accorsi TAD, Grinberg M. VALVOPATIAS: ATIVIDADES FÍSICAS E ESPORTE. Rev Soc Cardiol Estado de S.o Paulo. 2005;2:152-9.

10 – Schlotter F, Matsumoto Y, Mangner N, Schuler G, Linke A, Adams V. Regular exercise or changing diet does not influence aortic valve disease progression in LDLR deficient mice. PLoS ONE 2012;7:e37298.

11 – Nishimura RA, Otto CM, Bonow RO, Carabello BA, Erwin JP 3rd, Guyton RA, OGara PT, Ruiz CE, Skubas NJ, Sorajja P, Sundt TM 3rd, Thomas JD. 2014 AHA/ACC guideline for the management of patients with valvular heart disease: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines [published corrections appear in J Am Coll Cardiol. 2014;63:2489]. J Am Coll Cardiol. 2014;63:2438-88.

12 – Bonow RO, Nishimura RA, Thompson PD, Udelson JE. Eligibility and Disqualification Recommendations for Competitive Athletes With Cardiovascular Abnormalities: Task Force 5: Valvular Heart Disease: A Scientific Statement From the American Heart Association and American College of Cardiology. J Am Coll Cardiol. 2015 Dec 1;66(21):2385-2392.

Dr. Tiago Bignoto
Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo – USP /
Residência Médica em Cardiologia pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – SP /
Especialista em Ecocardiografia pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – SP /
Sócio Titutar da Sociedade Brasileira de Cardiologia – SBC e Departamento de Imagem Cardiovascular – DIC /
Cardiologista assistente do Hospital do Coração – HCor e da seção de Valvopatias do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – SP /
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3875279435063769