Artigo revisa evidências sobre como exercícios físicos intensos podem prejudicar saúde cardíaca

Relatório mostrou que maratonas e outras atividades de resistência cardíaca podem causar mudanças estruturais no coração e elevar risco de problemas como arritmia cardíaca

Embora a prática de atividade física esteja associada à prevenção de doenças cardíacas, além de outros problemas, como a obesidade, diversos estudos já apontaram para os prejuízos ao coração causados pelo excesso de exercícios de resistência. Um artigo publicado na edição deste mês do periódico Mayo Clinic Proceedings revisou a literatura médica existente sobre o assunto e descreveu os mecanismos pelos quais a prática intensa de atividades afeta a saúde cardíaca.

De acordo com o relatório, maratonas de corrida ou de ciclismo podem desencadear alterações estruturais no coração, causando lesões no órgão e aumentando o risco de eventos cardiovasculares. Os autores levaram em consideração resultados de pesquisas recentes que sugeriram que treinos de resistência cardíaca podem, por exemplo, endurecer as paredes das artérias e elevar os níveis de biomarcadores cardíacos. Os biomarcadores são, em geral, proteínas específicas que o corpo produz por causa de alguma doença.

Segundo os autores, é possível que essas mudanças se desfaçam e o corpo se recupere após uma semana. Porém, para os indivíduos que praticam frequentemente atividades intensas, após meses ou anos de lesões repetitivas, esse processo pode desencadear o aumento do risco de uma arritmia cardíaca ou de uma morte súbita. Até agora acreditava-se, de acordo com o artigo, que atletas, embora comumente apresentem anomalias em exames cardíacos, não necessariamente corriam maior risco de sofrer com esses problemas.

“O exercício físico, embora não seja uma droga, possui muitas características de um agente farmacológico potente. Uma rotina diária de atividade física pode ser altamente eficaz para prevenção e tratamento de várias doenças, inclusive a arterial coronariana, hipertensão, insuficiência cardíaca e obesidade. Porém, como qualquer medicamento, existe uma quantidade segura, já que os efeitos adversos do excesso de atividade podem superar os benefícios da prática”, diz James O’Keefe, cardiologista do Instituto Americano do Coração de Saint Luke, nos Estados Unidos, e um dos autores do trabalho.

O pesquisador ressalta que é baixa a mortalidade decorrente de exercícios intensos e que as pessoas fisicamente ativas são geralmente mais saudáveis do que as sedentárias. Por isso, as pessoas não devem temer a prática de atividade física, especialmente em períodos de 30 a 60 minutos ao dia.