Salvando vidas enquanto se especializam

O dia-a-dia caótico dos hospitais conveniados do SUS esconde um misto de dedicação, aprendizado e sacrifício, são os médicos residentes. Na lentidão de repasse de verbas, falta de exames e medicamentos dos hospitais públicos, por um salário em torno de R$ 1.280, esses médicos salvam vidas enquanto se especializam. Com carga horária muitas vezes além das 60 horas semanais, esses profissionais são considerados a alma de alguns hospitais residentes, pois encontram na troca saudável entre a necessidade de aprender e a vontade da população em ter atendimento, as condições necessárias para a complementação acadêmica.

Em Sergipe, são cerca de 32 residentes oriundos dos diversos estados brasileiros. A depender da especialização eles podem passar de dois a cinco anos para receberem o título nas áreas clínica médica, cirurgia geral, coloproctologia, endocrinologia, infectologia, obstetrícia e ginecologia, pediatria, pneumologia, cardiologia, radiologia e diagnóstico por imagem, medicina de saúde e comunidade.

Para chegar a cursar a residência médica não é fácil. O candidato passa por uma série de etapas, entre essas, prova escrita, entrevistas e avaliação de currículo. As residências oferecidas em Aracaju são realizadas no hospital Universitário e na Maternidade Hildete Falcão. A coordenação de residência não dispõe de moradia, apenas ticket alimentação quando o médico residente está de plantão.

Em sua maioria, os residentes em Aracaju já prestaram o concurso para a residência em diversos estados. É o caso do baiano Cláudio Luiz Lustosa, residente em clínica médica no HU. Cláudio Lustosa colou grau em medicina pela Faculdade Baiana de Medicina, em Salvador, e prestou o concurso de residência na Bahia, em São Paulo e em Sergipe, logrando êxito nesse último por conta do maior tempo para se preparar.

O médico residente diz já ter se acostumado a morar longe de casa. Três anos exercendo a medicina na Amazônia o fez acostumar a morar em qualquer lugar. Do contrário, ele, cita como problema enfrentado pelos médicos residentes, a precariedade do SUS. “É inerente a maioria das residências vinculadas ao SUS faltar recurso, material e exames, o que muitas vezes nos faz pedir cortesias aos hospitais particulares”, conta.

Apesar de cumprirem escalas de plantões, os residentes nem sempre cumprem as 60 horas semanais, com a extensão do horário nos finais de semana e feriados. “Acredito que nós somos quem impulsiona o hospital. Se houvesse uma greve de residentes, o atendimento parava”, observa.

Nas residências medicas, uma vez por semana, existem aulas práticas ambulatoriais acompanhadas de uma equipe multidisciplinar de preceptores (médicos orientadores). Os médicos residentes atendem a pacientes no ambulatório, onde se discute os casos com o preceptor.

Para Cláudio Lustosa, essa troca de experiência acrescenta informações que muitas vezes não são obtidas de maneira adequada na universidade. Ele aponta a dedicação como um dos itens de sucesso na residência, apesar de confessar que os salários não pagam a metade dos gastos, principalmente porque a tendência é se fazer residência em outros estados que não seja o de origem.

Segundo Lustosa, o médico residente é o “carregador do piano”, como diz na gíria do futebol, por muitas vezes, aquele que “segura o hospital público nas costas”. “É o dilema de querer aprender e se especializar com a mistura de comprometimento social que nos move”.

Ângela Maria da Silva, coordenadora do hospital Universitário e idealizadora das residências médicas em Sergipe reconhece que hoje as atividades dos hospitais universitários são em grande parte, mantidas pelos médicos residentes devido à carga horária. “Tem aqueles que se dedicam mais e outros só cumprem o que é exigido. Os que se dedicam estarão mais preparados”, ressalta.

Fonte:Correio de Sergipe