Saúde quer novo perfil para Medicina

Além de investir na adequação de programas de residência médica às necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Programa Saúde da Família (PSF), o Ministério da Saúde está atuando para tentar mudar cursos de Medicina, Enfermagem e Odontologia. A proposta é simples: as instituições que alterarem o perfil da graduação receberão em troca financiamento da pasta. Até agora, 90 cursos aderiram, entre eles os de várias universidades federais e das três estaduais de São Paulo – USP, Unesp e Unicamp.

O objetivo é modificar o foco das graduações para colocar no mercado profissionais voltados ao atendimento comunitário e ambulatorial, aptos a trabalharem na prevenção e promoção da saúde, em detrimento do perfil atual, ainda centrado na doença e no atendimento hospitalar.

No ano passado, o programa destinou R$ 39,8 milhões para financiar os projetos selecionados, que abrangem um total de 46 mil estudantes. Para este ano, um novo edital para selecionar novos cursos foi lançado. A previsão é investir pouco mais de R$ 40 milhões. “Queremos ajudar a formar um médico preparado para abordar o processo de saúde e doença, que saiba atuar na atenção básica e capaz de manter-se atualizado, criando seu conhecimento”, diz Francisco Campos, secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do ministério.

Chamado de Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde), o projeto financia instituições dispostas a reorientarem o conteúdo teórico, a diversificação dos cenários de prática e a orientação pedagógica e que insiram suas escolas nos serviços públicos de saúde. “Queremos também ampliar o tempo de prática educacional na rede pública, aproximar mais a academia do atendimento à população”, explica o secretário. Somente de Medicina, segundo levantamento da Associação Médica Brasileira (AMB), são 167 cursos no País, que oferecem cerca de 17,8 mil vagas por ano, sendo 58% em faculdades privadas.

EXPERIÊNCIA

Há quatro anos isso acontece no curso de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, interior do Estado. Nos três primeiros anos, os alunos desenvolvem atividades em postos de saúde, uma oportunidade para aprender na prática e conhecer a realidade do SUS. “No primeiro ano, eles vão também às casas dos pacientes descobrir como vivem”, diz o diretor da Faculdade de Medicina da Unesp, Sérgio Swain Müller. Para ele, a oportunidade de inserção dos futuros médicos na comunidade proporciona mais do que uma melhor formação básica. “Com certeza vamos formar médicos com noção de cidadania melhor.”

Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), duas turmas se formaram com o programa incluído no currículo. Os resultados também já podem ser sentidos. Em 2007, 15 alunos recém-formados resolveram adiar o ingresso na residência médica para trabalhar por um ano na rede de saúde antes de escolher a especialidade que irão seguir.

O trabalho dos alunos nos postos de saúde é acompanhado por professores da universidade. “O nosso aluno vive em uma redoma, não conhece o paciente. Às vezes, fica irritado porque um hipertenso não toma remédio. Mas, durante a experiência de atendimento na rede, faz visitas aos pacientes, aí descobre as condições de vida daquela pessoa e compreende por que ela não toma remédio. Ele se torna mais tolerante”, diz Angélica Maria Bicudo Zeferino, coordenadora do curso de Medicina da Unicamp.

Angélica, no entanto, critica o que chama de “restrições excessivas” do Pró-Saúde. “Não podemos fazer reformas nos postos com o dinheiro do programa. Isso é ruim pois, em muitos lugares, é preciso reformas básicas para tornar viável a formação dos alunos e o atendimento”, diz.

Fonte: Estado de Sao Paulo