Residentes vão cobrir déficit de médicos na rede básica

Reduzir a falta de médicos nas unidades básicas de saúde, aliviar a sobrecarga dos pronto-socorros e aprimorar a formação dos profissionais. Estes são alguns dos objetivos do Modelo Pedagógico de Formação que o Hospital Municipal Dr. Mário Gatti implanta a partir de fevereiro. Pelo programa, parte do trabalho dos 72 médicos-residentes do hospital será realizada nos centros de saúde.

A diretora clínica do hospital, Ivanilde Ribeiro, diz que a formação acadêmica não dá a noção da realidade na rede básica. “O profissional se forma sem se ver atuando no serviço público e sem compreender como o sistema se organiza”, explica, frisando que esse desconhecimento é uma das causas da dificuldade do poder público de contratar e fixar médicos nos postos de saúde.

Para o secretário de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva, a iniciativa tem reflexo principalmente na formação do profissional e integra os preceitos do Sistema Único de Saúde (SUS), de agregar assistência e ensino. Ele lembra que o trabalho em parceria com universidades já ocorre há tempos, e não apenas em medicina, mas em outras áreas como fisioterapia, nutrição e educação física, por exemplo.

Paliativo

Para o secretário, a presença dos residentes nos centros de saúde vai ajudar, mas não resolver a falta de médicos na rede básica. “A finalidade principal da medida é aprimorar a formação e permitir que os médicos conheçam a rede básica”. Para suprir o déficit na rede, a Prefeitura está abrindo processo seletivo para contratação de médicos.

Ivanilde destaca que a meta é que o profissional vivencie a realidade do paciente além dos limites do hospital. “O atendimento nos centros de saúde vai ampliar a visão do profissional, que vai conhecer como vive o paciente na comunidade, as condições sanitárias e ambientais, fatores de agravo, doenças mais prevalentes na região, entre outros.”

Uma experiência piloto nesse sentido vem sendo desenvolvida pelo Mário Gatti desde 2005 no Centro de Saúde São José, mas envolvendo apenas os quatro médicos de saúde da família, que atuam diretamente nas unidades básicas. “Vamos agora ampliar a experiência envolvendo as outras especialidades”, diz Ivanilde. Ela explica que o tempo que os residentes permanecerão nos centros de saúde vai depender da especialidade.

Regras

Um residente de cirurgia, por exemplo, deve ocupar cerca de 10% de sua carga horária na unidade básica, apenas para conhecer o funcionamento do sistema. Já pediatras e clínicos cumprirão aproxidamente 30% de sua carga horária nos centros de saúde.

O Mário Gatti tem 72 médicos-residentes, além de seis residentes de odontologia. Neste primeiro momento, os residentes prestarão serviços no Centro de Saúde Paranapanema, na região Sul, área de referência do hospital.

Para o coordenador do programa de Residência em Medicina da Família e Comunidade, Fábio Luís Alves, a experiência no Centro de Saúde São José foi positiva. “Além da integração do ponto de vista da docência, o modelo propõe uma nova forma de atenção à saúde”, avalia, frisando que o conhecimento do ambiente em que vive o paciente permite ao médico “olhar o processo da doença além do caráter biológico”.

Prefeitura oferece 230 vagas para especialistas

A Secretaria de Saúde de Campinas abre processo seletivo para a contratação de 230 médicos. Estão abertas vagas nas especialidades de médico de saúde da família (80), clínico geral (40), ginecologista-obstetra (23), pediatra (18), psiquiatra (20), emergencista adulto (43) e emergencista pediátrico (7). As inscrições podem ser feitas de amanhã até o próximo dia 2 de fevereiro e a data provável da prova é 11 de fevereiro. A previsão para contratação é início de março.

O contrato será pelo regime da CLT por prazo determinado de 1 ano, prorrogável por igual período. O secretário de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva, explica que neste primeiro momento serão chamados cerca de 50% dos profissionais. “A idéia é termos uma reserva de médicos classificados, uma vez que é grande a rotatividade no setor”. A falta de médicos nas unidades básicas é a principal reclamação dos usuários do serviço. Para o secretário, a impossibilidade de realização de concurso público (suspenso até aprovação de novo plano de cargos), dificulta a contratação. “Os médicos não se interessam pelo contrato temporário. Eles até participam e assumem a vaga, mas saem assim que surge oportunidade melhor”, afirmou. O edital do processo seletivo será publicado de amanhã a sexta-feira no Diário Oficial do Município.

O salário oferecido aos médicos pela Secretaria de Saúde de Campinas varia de R$ 2.282,15 para regime de 20 horas semanais, até R$ 3.872,07 para 36 horas. Os profissionais contratados recebem também auxílio alimentação nos valores de R$ 155,00 e R$ 310,00, respectivamente, para carga horária de 20 horas e acima de 30 horas semanais, mais prêmio produtividade que varia de R$ 366,44 a R$ 1.447,61, de acordo com a localização da unidade de saúde. Saraiva diz que a contratação é fundamental para suprir vagas na área de urgência e emergência.

Fonte: Cosmo OnLine