Primeiro implante de CDI subcutâneo de BH

Parabéns ao nosso diretor científico, Dr. Charles Rios Souza, que participou da equipe que realizou o implante do primeiro CDI subcutâneo (S-ICD) de Belo Horizonte. E você sabe o que é o S-ICD?

Confira abaixo explicação completa escrita pelo Dr. Charles Rios Souza.

Sistema S-ICD: Desfibrilador Implantável Subcutâneo

A morte súbita responde por metade das mortes de pacientes com cardiopatia isquêmica e não isquêmica, e disfunção ventricular esquerda grave. Dessas mortes, a imensa maioria é arritmogênica por TV ou FV. O Cardiodesfibrilador (CDI) é a pedra angular na prevenção de morte súbita em pacientes com risco de vida devido as arritmias com ou sem insuficiência cardíaca. Sua eficácia em redução da mortalidade já foi largamente comprovada em vários Estudos randomizados.

A despeito do imenso benefício já evidenciado em diversos estudos do implante do cardiodesfibrilador na prevenção de morte súbita, algumas complicações relevantes permanecem como um desafio à área de estimulação cardíaca tais como infecções do sítio cirúrgico, choque inapropriado e complicações decorrentes de alterações no cabo-eletrodo de choque transvenoso do CDI. De acordo com Kleemann T et al, a incidência de defeitos intrínsecos do cabo-eletrodo de desfibrilação pode atingir uma taxa de 20% em 10 anos, principalmente por defeitos relacionados ao isolante. As trocas desses cabo-eletrodos aumentam o risco de infecções, de interferências devido a contato entre os eletrodos dentro da cavidade cardíaca e a extração desses eletrodos corrompidos são associadas a elevadas taxas de morbimortalidade.

Pensando em solucionar algumas dessas complicações foi desenvolvido um CDI de implantação subcutânea (S-ICD), sem a necessidade de acesso venoso e fluoroscopia. Após os resultados do estudo de Burke et al o dispositivo foi aprovado pelo FDA. Alguns registros reforçam a segurança na sua indicação como o Registro Europeu EFFORTLESS, que evidencia que a maioria das indicações são em prevenção primária, ainda altas taxas livre de complicações depois de 1 ano, alta taxa de conversão Aguda de TV/FV (Induzida), alta taxa de conversão de Eventos Espontâneos de TV/FV, muito baixa taxa Terapia Indevida e > 99% dos episódios detectados de FA/TSV na zona condicional foram corretamente discriminados.

Uma análise retrospectiva publicada na JAMA em 2016 (JAMA Cardiol. 2016;1(8):900-911. doi:10.1001/jamacardio.2016.2782 Published online September 7, 2016.) de 393 734 implantes de CDI comparou mortes, hospitalização e teste de limiar de desfibrilação entre S-ICD e CDI transvenoso, os dados evidenciaram alta taxa de sucesso do teste de desfibrilação no S-ICD. Não houve diferença significativa entre as taxas de complicações intrahospitalares entre S-ICD, CDI câmara única e CDI câmara dupla. Os autores concluem que o uso do S-ICD tem aumentado rapidamente nos EUA com baixas taxas de complicações e altas taxas de sucesso do teste de desfibrilação mesmo em pacientes com um número alto de comorbidades.

A grande pergunta que fica é: podemos substituir o implante tradicional transvenoso pelo S-ICD? Tentando responder a essa pergunta está em andamento o PRAETORIAN trial (ClinicalTrials.gov – ID NCT01296022), randomizado, multicêntrico, em que pacientes com indicação classe I e IIa para CDI sem indicação de terapia antibradicardia e antitaquicardia(ATP) foram incluídos. Um total de 700 pacientes foram randomizados para CDI transvenoso e subcutâneo (1:1). O Estudo tem poder para testar a não inferioridade do S-ICD em relação ao endpoint primário de choque inapropriado e complicações relacionadas ao CDI. Após o estabelecimento da não inferioridade, análises estatísticas serão feitas para superioridade. O Endpoint secundário comparando parâmetros de eficácia de choque e mortalidade de pacientes serão realizados.

Apesar de excelentes resultados o S-ICD apresenta limitações que precisam ser levadas em consideração na hora da indicação, o dispositivo parece não ser uma boa opção naqueles pacientes que necessitam de terapia anti-bradicardia, ressincronização ou TV monomórfica que se beneficiariam de estimulação anti-taquicardia (ATP).

Sendo assim o S-ICD parece ser uma boa opção para a população pediátrica, adultos sem acesso vascular por obstrução ou infecção, pacientes em diálise permanente,  jovens com doenças elétricas em que muitas das vezes a primeira manifestação da doença é uma morte súbita por TV polimórfica ou FV, tais como Síndrome de Brugada, QT longo, QT curto, Displasia arritmogênica do ventrículo direito e miocardiopatia hipertrófica.

O que dizem as diretrizes:

2015 ESC Guidelines for the managementof patients with
ventricular arrhythmiasand the prevention of sudden cardiac death

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2017 AHA/ACC/HRS Guideline for Management of Patients
 With Ventricular Arrhythmias and the Prevention of Sudden
Cardiac Death: Executive Summary

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Técnica cirúrgica:

Dr. Charles Rios Souza

  • Membro da Diretoria da ABEC(Associação Brasileira de Estimulação Cardíaca Artificial) – biênio 2020-2021
  • Médico assistente do Serviço de Marca-passo do HC-UFMG
  • Ritmologista com atuação nos Hospitais Vera Cruz, MaterDei e Socor
  • Residência em Cardiologia pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – SP
  • Residência em Eletrofisiologia não invasiva e Estimulação Cardíaca Artificial pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – SP
    Título de especialista em Estimulação Cardíaca Artificial pela ABEC/DECA
  • Residência em Medicina Interna pelo HJK/FHEMIG – MG
    Graduação em Medicina pela UFJF – MG



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