Pesquisadores recomendam tratamento com antirretroviral a todos os pacientes infectados pelo HIV

Para especialistas, terapia controla não só os sintomas da aids, mas evita doenças cardiovasculares, problemas renais e outras complicações de saúde

Especialistas recomendaram, pela primeira vez, que todos os pacientes infectados pelo vírus HIV sejam tratados com antirretrovirais, mesmo se o impacto do vírus no sistema imunológico deles se mostre pequeno. As diretrizes foram estabelecidas pela Sociedade Internacional Antiviral (IAS, sigla em inglês) e publicadas nesta semana no Journal of the American Medical Association (JAMA), periódico que dedicou sua última edição a pesquisas em torno da aids, aproveitando a realização da Conferência Internacional de Aids 2012, que acontece até a próxima sexta-feira em Washington, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores da IAS citaram novas evidências de que a infecção com o vírus da imunodeficiência não tratada causa aids e pode levar a vários outros problemas, incluindo doenças cardiovasculares e renais. Além disso, dados mostraram que a terapia com antirretrovirais não só reduz o risco de uma pessoa infectada transmitir o vírus a outra, mas também diminui as chances de uma pessoa saudável, mas que apresenta alto risco de contrair o vírus, seja infectada.

“Não estamos mais apenas concentrados nas infecções tradicionais da aids. Sabemos que o HIV está danificando o corpo a todo momento em que não está controlado”, afirmou Melanie Thompson, pesquisadora do Consórcio de Pesquisa do HIV em Atlanta e membro do painel da IAS. De acordo com a especialista, as recomendações são globais, mas principalmente focada em países ricos, que podem cobrir os custos das medicações.

“As drogas são convenientes, têm poucos efeitos colaterais e seus benefícios estão se tornando cada vez mais claros, tanto para as pessoas infectadas quanto do ponto de vista da saúde pública”, diz Paul Volberding, diretor do Centro de Pesquisa de Aids da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e outro membro do painel.

Tratamento – Em 2008, o mesmo painel da IAS recomendou que a terapia com antirretrovirais deveria começar quando o número de linfócitos CD4 (células do sistema imunológico) da pessoa infectada atingisse 350 células por mililitro de sangue – o que hoje é o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em geral, o paciente infectado pelo vírus HIV que não apresenta sintomas somente recebe o tratamento quando há menos de 250 ou 200 células CD4 por mililitro de sangue. Um adulto saudável tem entre 500 e 1.200 células CD4 por mililitro de sangue. O início do tratamento costuma ser protelado para evitar a resistência do HIV aos remédios e seus efeitos colaterais. No entanto, segundo a IAS, novos medicamentos mais seguros permitem antecipar a terapia.

Esperança – Na abertura da Conferência Internacional de Aids 2012, neste domingo, os pesquisadores se mostraram esperançosos em relação à possibilidade do fim da pandemia da doença, especialmente graças a um arsenal de novos tratamentos contra o vírus HIV – mesmo que ainda não se fale em cura da aids.

Para o diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (Niaid, sigla em inglês) dos Estados Unidos, Anthony Fauci, o fim da pandemia pode vir com o fim da transmissão da doença. O virólogo baseia suas esperanças principalmente nos resultados de testes clínicos que mostraram que os antirretrovirais podem reduzir de maneira significativa o risco de transmissão em pessoas saudáveis, e não apenas controlar o vírus naquelas que estão infectadas. Para o médico Gottfried Hirnschall, encarregado do relatório sobre a Aids da Organização Mundial de Saúde (OMS), isso será, provavelmente, o centro das conversas da conferência.