Pericardite e as complicações

Hoje iremos finalizar a discussão deste artigo falando sobre as recorrências/complicações da pericardite.

PERICARDITE RECORRENTE É COMUM?

Bem, aproximadamente 1 de cada 3 pacientes tratados apresentarão recorrência após 4-6 semanas, PRINCIPALMENTE SE NÃO RECEBERAM COLCHICINA.

Devemos ter, como falado anteriormente, um intervalo 4-6 do episódio inicial.

Geralmente mais comum em mulheres e uso prévio de corticoides.

O tratamento é baseado em COLCHICINA + CORTICOIDE.

Bloqueadores de IL-1 como Anakinra e Rinolacept foram testados com boa resposta associada a baixa taxa de efeitos adversos, porém a duração do tratamento e o custo são as maiores desvantagens.

Imunomoduladores de uso cotidiano, como Azatrioprina- Micofenolato- Metrotexato são opções principalmente nos casos de necessidade de doses elevadas de corticoides.

E a Pericardiectomia?

Aparece com a última opção realizada quando a despeito da terapia otimizada paciente permanece com dor, piora na qualidade de vida.

Lembrar que não é isenta de complicações, há contraindicações como qualquer cirurgia; deve ser realizada em centros com experiência, é a dor pode persistir após cirurgia.

DERRAME PERICÁRDICO E TAMPONAMENTO

O derrame pericárdico está presente em 50-65% dos pacientes. Apresentação clínica é variada, desde um pequeno derrame (comum nas pericardites agudas) até o Tamponamento Cardíaco (Neoplasia- Tuberculose- Hipotireoidismo).

Lembram da Tríade de Beck? E as alterações do Eletrocardiograma?

O Ecocardiograma se caracteriza por ser um exame beira leito, amplamente disponível apresentando sinais característicos no contexto no Derrame Pericárdico Importante / Tamponamento Cardíaco com poder diagnóstico e definição terapêutica.

O prognóstico depende da etiologia: Pior prognóstico nos casos de Tuberculose, Neoplasia, Infecção bacteriana, Doença do tecido conectivo, quando comparado aos casos de Idiopática, assim como a velocidade e o tempo de progressão de derrame jogam também um papel importante.

TRATAMENTO: Pericardiocentese, e Cirurgia (Janela pleuro-pericárdica) nos casos hemopericardio, dificuldade na pericardiocentese ou recorrência do tamponamento.

PERICARDITE CONSTRITIVA

Pode estar relacionada a organização do derrame prévio, ou sem relação ao mesmo.

É mais comum em homens, sendo a Tuberculose a causa mais comum nos países em desenvolvimento, quanto a viral/idiopática permanecem nos outros países como a principal causa.

Interessante o fato de pacientes que apresentam co-infecção de Tuberculose e HIV o risco de pericardite constritiva diminui.

O diagnóstico é baseado no Ecocardiograma, junto a sinais de Insuficiência Cardíaca Direita (Sinal de Kussmaul por exemplo). Os sintomas são pouco específicos.

Exames complementares:

  • Proteína C Reativa quando elevada está relacionada a boa resposta ao tratamento anti-inflamatório;
  • Geralmente não há aumento importante o Peptídeo Natriurético B (BNP), porém pode se elevar nos casos de doença miocárdica associada;
  • A Radiografia Tórax pode apresentar calcificação em até 1/3 dos pacientes.

O Ecocardiograma pode demonstrar derrame em até 30-40% dos pacientes, e assim como no tamponamento observamos alterações especificas, no fluxo mitral, na variabilidade respiratória, na observação da veia cava inferior e veia hepática, assim como a utilização do Strain na diferenciação da pericardite constritiva versus doença restritiva.

A Ressonância Magnética Cardíaca tem um papel importante nos casos onde o Ecocardiograma não é conclusivo, ou apresenta dificuldade na sua avaliação (antecedente de radioterapia por exemplo). Como comentado anteriormente sobre o PCR, a presença de inflamação ativa/realce tardio de gadolínio na Ressonância Magnética Cardíaca é preditor de resposta favorável ao tratamento.

A Tomografia apresenta como vantagens avaliação da calcificação pericárdica, envolvimento extra-cardíaco e como exame pré-operatório nos casos de pericardiectomia

O Cateterismo Cardíaco é reservado quando após a utilização de todos os métodos não invasivos estamos diante de um diagnóstico inconclusivo.

Tratamento:

  • Anti-inflamatório;
  • Diuréticos nos casos de hipervolemia – sintomas de IC Direita;
  • Betabloqueador – Ivabradina;
  • Nos casos crônicos (ICC classe III-IV) a despeito da terapia otimizada a pericardiectomia é indicada;
  • Novamente cirurgia não é isenta de complicações, tem contraindicações logo, são casos selecionados.

PERICARDITE EFUSIVA-CONSTRITIVA

Coexistência derrame pericárdico e pericardite constritiva, caracterizada por ausência de normalização das pressões intracardiacas após drenagem do líquido pericárdico. No ecocardiograma apresenta-se como persistência da disfunção diastólica mesmo após procedimento. Causas mais comuns: Tuberculose-hemopericardio-Pericardite purulenta.

Tratamento: AINE. Refrataria: considerar Pericardiectomia.

Clique AQUI e leia Artigo da discussão.

OUÇA também o PODCAST do Dr. Valentin Fuster. Key Points da ACC.

E para finalizar, alguns gráficos muito interessantes de um artigo excelente do Dr. Cremer sobre as Complicações da Pericardite.

Clique AQUI para ler. E OUÇA também o Podcast Dr. Valentin Fuster.

Dr. Horacio Eduardo Veronesi

  • Formado em Medicina pela Universidad Nacional de Rosario (Arg)
  • Residência em Cardiologia pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (SP)
  • Residência em Ecocardiografia pelo Instituto Nacional de Cardiologia (RJ)