Os riscos da anfetamina

Muitos conhecem exemplos de medicamentos em que podemos encontrar a substância. O que poucos sabem são os riscos das anfetaminas. O “rebite” provoca muito mais do que a excitação e a perda do sono – pode dar origem até a problemas cardiovasculares

A palavra anfetamina pode até soar estranho. Mas os exemplos desse perigoso medicamento muita gente conhece. É o “rebite” (ou “arrebite”), usado pelos caminhoneiros. É a “bolinha”, famosa entre os estudantes. Muitos usam com o objetivo de se manterem acordados, já que a substância provoca a perda do sono. Alguns caminhoneiros, por exemplo, insistem em dirigir à noite para chegar mais rápido ao destino. Os estudantes querem umas horas a mais em claro para colocar o conteúdo em dia antes das provas. O que pouca gente sabe, na verdade, são as conseqüências – tão desastrosas – que essas anfetaminas podem causar.

Essas substâncias provocam a perda do sono porque causam a excitação do cérebro e agem no sistema nervoso central, como explica o psiquiatra José de Anchieta Cruz Maciel. De acordo com ele, o uso continuado de anfetaminas pode originar também a chamada psicose anfetamínica. “O indivíduo passa a ter alucinação auditiva e visual. A paranóia (mania de perseguição) pode surgir, diz o médico. A substância estimulante do sistema nervoso central vai mais além nos estragos que pode fazer com a vida de alguém – provoca depressão, diminui o apetite e causa ansiedade.

José de Anchieta afirma que a excitação causada pelos estimulantes anfetamínicos dá origem à arritmia cardíaca e ao aumento da pressão arterial. O médico, que também é Secretário Regional Nordeste da Associação Brasileira de Psiquiatria, admite que existem casos em que profissionais da saúde preferem prescrever anfetamínicos aos pacientes, como em tratamento de obesidade e déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) . Mesmo nesses casos, o psiquiatra acha que há outros métodos para o tratamento e não recomenda o uso de anfetaminas. “Para emagrecer, por exemplo, existem outros modos, como a atividade física regular e a alimentação balanceada”, defende.

Preço
De acordo com o médico, um dos empecilhos para que a anfetamina não seja mais usada é o preço baixo com que ela é encontrada. Outra agravante é o fácil acesso a essas substâncias – muitas vezes, são vendidas em farmácias, mas podem ser encontradas à venda até nas lojas de conveniências dos postos de combustível. “Há medicamentos com anfetaminas sendo vendidos a R$ 8, por exemplo. É um remédio para emagrecer, mas é muito perigoso”, alerta ele, lembrando que pessoas que têm hipertensão arterial podem ter o problema piorado com o uso da substância.

Outro alerta dado pelo psiquiatra: os remédios com anfetamina não podem ser vendidos sem prescrição médica, já que são medicamentos que provocam dependência física. “A pessoa pode ficar mais agressiva, mais violenta, mais destemida. Além disso, o organismo fica tolerante ao uso contínuo e a pessoa pode ficar também dependente”, avisa. De acordo com o médico, o melhor mesmo é evitar essas substâncias. Ele indica ao estudante que quer ter mais tempo para se dedicar aos estudos que priorize uma qualidade de vida boa e descanse mais durante o dia. Ao caminhoneiro, o mesmo aviso.

Mesmo com tantos riscos, o mercado desses produtos só cresce. Em todo o mundo, o número de pessoas que consomem anfetaminas já é três vezes maior do que o número de usuários de ecstasy. A droga ilícita tem cerca de nove milhões de consumidores no mundo todo. Quando se fala em índice de prevalência anual (referindo-se aos casos de uso, pelo menos, uma vez ao ano), o Brasil lidera o consumo na América do Sul. E isso preocupa os especialistas, porque, mesmo que as anfetaminas sejam usadas em tratamentos recomendados por médicos, os efeitos podem variar desde problemas cardiovasculares até dependência química.

Fonte: O Povo Online