O que precisamos saber na análise de um Holter 24h? (PARTE 1)

CardioAula - Médico escrevendo coração de ECG

A eletrocardiografia dinâmica (Holter) foi um grande avanço no diagnóstico das arritmias cardíacas. Ela nos permite através de registro de longa duração quantificar e qualificar os distúrbios do ritmo e avaliar a eficácia do tratamento e efeitos pró arrítmicos. Mais recente, iniciou-se a sua utilização para análise do perfil autonômico.

De uma forma geral, podemos avaliar a distribuição das arritmias nas 24h e sua relação com a frequência cardíaca, sistema nervoso autônomo e queixas/atividades dos pacientes.

Perguntas mais frequentes.

É possível dar diagnóstico preciso de bloqueios de ramo e bloqueios fasciculares pelo Holter?

R: Não, o Holter utiliza derivações bipolares de tórax onde canal 1 corresponde aproximadamente a V1, Canal 2 corresponde aproximadamente a V5 e o canal 3 é uma derivação modificada sem correlação específica. Porém, a correlação pode ser afetada por vários motivos como local correto da colocação dos eletrodos e troca do posicionamento do eletrodo pelo paciente. Portanto, é mais adequado colocar o termo “Distúrbio da condução intraventricular do estímulo” no laudo.

Quando valorizar a taquicardia ventricular não sustentada no Holter?

R: Episódios de taquicardia ventricular não sustentada (TVNS) devem ser valorizados em paciente com doença cardíaca estrutural, principalmente naqueles com disfunção do ventrículo esquerdo. Em pacientes sem cardiopatias e sem história de morte súbita na família, nos quais a TVNS foi achado de exame, não há necessidade, na grande maioria dos casos, de tratamento.

Qual o papel do holter na avaliação de dor torácica e doença coronariana?

O holter pode também ser usado para o diagnóstico e/ou avaliação de dor torácica ao correlacionar alterações eletrocardiográficas e sintomas relatados pelo paciente e também na avaliação de isquemia silenciosa. O diagnóstico de isquemia de acordo com a diretriz americana de Monitorização externa e ECG ambulatorial 2017 1, é feito quando há infradesnivelamento do segmento ST de pelo menos (0,5 -1 mm) por 1 minuto.

Em algumas situações, a análise da repolarização ventricular está prejudicada. São elas : bloqueio de ramos prévio, marca-passo artificial com comando ventricular, pré-excitação ventricular, fibrilação atrial.

Referência:
Steinberg JS, Varma N, Cygankiewicz I, et al 2017 ISHNE-HRS expert consensus statement on ambulatory ECG and external
cardiac monitoring/telemetry. Heart Rhythm. 2017 Jul;14(7):e55-e96.

Dr Kleber Serafim

Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Médico Assistente do setor de Eletrofisiologia/Arritmias Cardíaca do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.