Novas descobertas sobre as doenças autoimunes

Diante de incertezas e acasos, o ser humano tenta encontrar uma explicação para fatos à primeira vista inexplicáveis. E um deles é a existência de doenças autoimunes. Os cientistas ainda tateiam em busca de motivos pelos quais nossas próprias defesas passariam a encarar o organismo como um adversário em um campo de batalha. A herança genética, é quase certo, tem parcela de culpa nesse desatino do sistema imunológico. Até aí, não há mesmo o que fazer. O curioso é que muita gente, apesar da predisposição, passa a vida toda sem experimentar essa reação masoquista dos guardiões do corpo. “Isso é o maior sinal de que fatores ambientais atuariam como estopins importantes para a autoagressão”, opina o reumatologista Luis Eduardo Andrade, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Pesquisadores dos quatro cantos do globo querem decifrar quais seriam esses gatilhos. Um grupo do National Institute of Environmental Health Sciences, nos Estados Unidos, investigou o impacto dos raios ultravioleta do sol nos autoataques do corpo. Eles analisaram 380 pacientes diagnosticados com uma doença autoimune que acomete a pele, a dermatomiosite. Colheram amostras de sangue e verificaram a presença de um anticorpo específico, associado à exposição excessiva ao sol. “Confirmamos que a radiação altera o DNA das células cutâneas, o que aumenta, sobretudo nas mulheres, o risco de o organismo enxergá-las como estranhas, desencadeando o problema”, revela Frederick Miller, o autor do estudo.

Outra descoberta vem da Universidade da Califórnia, também nos Estados Unidos. Ali, os investigadores alteraram ratos, retirando de seus macrófagos – integrantes do sistema imune – uma proteína chamada TLR4. Depois, alimentaram os animais com uma dieta gordurosa, até que atingissem a faixa do sobrepeso. Ao contrário das cobaias normais, as modificadas não apresentaram inflamações nem resistência à insulina – reações esperadas quando se engorda demais. Ou seja, seria a tal proteína que ativaria a resposta imune à gordura. “Esse resultado é instigante, mas precisamos de mais estudos”, diz a reumatologista Maria Helena Kiss, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Recentemente na Suíça, na última reunião da Liga Europeia contra o Reumatismo – mal também causado pelas defesas do corpo -, os especialistas identificaram outras faíscas que fariam o sistema imunológico pegar fogo. “Parece que o cigarro e o consumo excessivo de café são capazes de tirá-lo do prumo”, revela a reumatologista Evelyn Goldenberg, da Unifesp. O estresse, as infecções sucessivas e até as pílulas anticoncepcionais completam a lista de suspeitos.

Quanto mais cedo forem detectados o reumatismo e outras encrencas autoimunes, menores os riscos de complicação grave. “Febre, sensação de fadiga, manchas avermelhadas na pele e dor nas articulações nunca devem ser subestimados”, avisa Maria Helena Kiss. Infelizmente, ainda não existe uma cura definitiva para esses males. O que se consegue, com os recursos modernos, é minimizar seus estragos e proporcionar maior bem-estar. Conheça, a seguir, o que é possível fazer nas principais enfermidades provocadas pelo sistema imunológico.