Mudança na residência médica causa polêmica

Adequar a oferta de vagas para residência médica com as necessidades dos principais programas de saúde do governo e o perfil epidemiológico do País. Com isso, priorizar residentes para o atendimento primário e para a medicina de família, incentivando-os a saírem dos grandes centros para desenvolverem-se em regiões com carência de profissionais.

A diretriz, defendida pelo Ministério da Saúde por meio de uma Comissão Interministerial, provocou um racha na Comissão Nacional de Residência Médica, ligada ao Ministério da Educação. A proposta levou o seu presidente, Antonio Carlos Lopes, clínico-geral da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente da Associação Brasileira de Clínica Médica, a pedir demissão do cargo.

“Querem resolver a questão da saúde pública do País com residentes. Ou seja, querem mão-de-obra barata para onde está faltando médico, formar para os programas de saúde do governo”, afirma Lopes. “Estão querendo fazer com que os recém-formados se encaminhem para as grandes áreas apenas: clínica, cirurgia-geral, pediatria e ginecologia.”

Lopes explica que o projeto defendido nos últimos quatro anos na comissão é o da residência médica como um programa de excelência para formar especialistas dentro de critérios de seleção. Para isso, uma das ações foi ampliar o número de anos de algumas especialidades. Ginecologia passou a precisar ser feita em dois anos em vez de um. Clínica-geral e psiquiatria, por exemplo, foram aumentadas para três. “Isso foi malvisto pelos gestores, que queriam formar mais rapidamente e pagar menos, mas, hoje em dia, como você vai formar um especialista em apenas um ano?”, diz o médico.

As críticas do ex-presidente da comissão são explicadas pelo secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Francisco Campos.

“Nossa posição é a de que deve haver uma adequação da oferta de residência à necessidade do País. Ela é financiada com dinheiro público e deve haver um direcionamento para onde faltam especialistas”, explica. “Qualidade é imprescindível, mas o que está em discussão é se a abertura de residências deve ser apenas fruto do movimento das instituições de ensino ou se a área da saúde pode expressar suas demandas para que se formem especialistas de acordo com as necessidades do País”, afirma.

Ele defende um modelo no qual haja abertura onde faltam especialistas, desde que com supervisão de grandes centros hoje reconhecidos, como o Instituto Nacional do Câncer (Inca), por exemplo. “Não estou defendendo que áreas remotas, sem infra-estrutura, abram residência, mas elas podiam abrigar residentes no último ano, desde que sob supervisão”, diz. Seria uma maneira, segundo ele, de tentar atrair esses profissionais para áreas em que faltam especialistas.

Fonte: Estado de S. Paulo