Medicamentos com menos efeitos colaterais

As drogas usadas na chamada terapia-alvo agem de forma mais direta sobre as células malignas, diminuindo os efeitos colaterais

Quando se fala em quimioterapia, a imagem que se tem é a de uma pessoa debilitada, já sem os cabelos, maltratada pelos efeitos colaterais. Mas, em alguns casos, a realidade tem sido diferente. É que já estão disponíveis no mercado novas drogas que causam efeitos menos agressivos ao paciente. O uso desses medicamentos mais recentes tem sido chamado pelos especialistas de terapia-alvo. Como o nome sugere, o tratamento age de forma mais direta sobre as células malignas, ao contrário do que ocorre na quimioterapia convencional.

“A quimioterapia é um tratamento com drogas tóxicas que agem em todas as células do organismo que têm proliferação mais rápida, que é uma das características da célula tumoral. O problema é que há células ‘boas’ no organismo que também se reproduzem rapidamente, como as dos folículos dos cabelos e as do trato digestivo. É por isso que, muitas vezes, cai o cabelo da pessoa ou o paciente fica com diarreia”, explica o oncologista clínico do Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio), Eduardo Cronemberger. Já os novos medicamentos têm um tratamento mais direcionado para as células malignas, inibindo o seu crescimento. “As pesquisas buscam as drogas que possam agir somente naquele alvo (onde há o tumor), sem atingir as outras células que estejam normais.”

O problema é que o custo dessas novas drogas ainda é elevado. “Tem comprimido que o tratamento chega a custar doze, quinze mil reais por mês”, informa o médico. Ele explica que a tabela usada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) não cobre esses tratamentos mais modernos. “Mas a gente tem dado um jeito de incorporar essas novas drogas (no atendimento público). Antes, a gente orientava o paciente a entrar com uma ação na Justiça caso fosse constatado que ele se beneficiaria muito com o (novo) medicamento. Mas o trâmite judicial demora um pouco. Agora, o Governo criou uma comissão que julga os casos, decidindo pela liberação ou não do medicamento pro paciente”, informa.

É por isso que, apesar dos avanços nas terapias-alvo, a quimioterapia convencional continua sendo a mais usada. A publicitária Maria José, por exemplo, ainda é submetida ao tratamento tradicional. “Tive perda total do cabelo por duas vezes. A gente fica com o sistema imunológico muito debilitado. Teve uma vez que fiquei com uma infecção no ouvido interno que precisou até operar”, conta Maria José, que descobriu, há seis anos, que tem câncer linfático. Náusea, diarreia, anemia e falta de apetite também são efeitos colaterais comuns em quem se trata por meio de quimioterapia.

Nas terapias-alvo, os efeitos costumam ser menos agressivos. “A queda de cabelo é um exemplo clássico do que essas novas terapias têm evitado”, diz Cronemberger. Mas ele lembra que a pessoa não fica livre dos efeitos colaterais. “O paciente pode ter diarreia, sentir fadiga ou ficar com lesões na pele como se fossem acne”, exemplifica. O oncologista esclarece ainda que, em alguns casos, a terapia-alvo precisa ser usada de forma associada à quimioterapia convencional. (Tiago Braga)

E-MAIS

>A coordenadora de Regulação, Avaliação, Auditoria e Controle da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Lilian Alves, explica que o SUS não cobre esses tratamentos mais modernos porque a tabela usada pelo Sistema Único de Saúde está defasada, custeando apenas os tratamentos e valores que já constam na chamada Autorização de Procedimento de Alta Complexidade (Apac). “É com esse documento que a unidade (de saúde) pode cobrar (do Governo), por exemplo, pela radioterapia e quimioterapia. Sendo que ele cobre apenas os tratamentos convencionais. Os modernos têm custo elevado, superior ao pago pela Apac”, diz.

>Lilian defende que, mais importante do que o Ministério da Saúde aumentar os valores da APAC, seria os laboratórios reduzirem os preços cobrados pelos medicamentos e técnicas descobertos.

>Em Fortaleza, fazem parte da rede credenciada no SUS para tratamento do câncer as seguintes unidades: Santa Casa de Misericórdia, Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), Hospital Geral de Fortaleza, Hospital Cura Dar’s, Hospital Infantil Albert Sabin, Hospital do Câncer do Ceará (HCC) e Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio).

SAIBA MAIS

> Quimioterapia é um tipo de tratamento em que se utilizam medicamentos para combater o câncer. Eles são aplicados, em sua maioria, na veia. Os medicamentos se misturam com o sangue e são levados a todas as partes do corpo, destruindo as células doentes que estão formando o tumor e impedindo também que elas se espalhem pelo corpo.

> Na quimioterapia tradicional, as drogas tóxicas são injetadas na veia. No caso das terapias-alvo, já podem ser encontrados medicamentos na forma de comprimidos.

> A quimioterapia também ajuda a prevenir a ocorrência de metástase (quando o câncer se espalha, afetando outros órgãos)

DICAS

> Tire todas as suas dúvidas com seu médico.

> Cada caso é um caso. O que é bom para um não será, necessariamente,
para o outro.

> Sentimentos como tristeza, raiva, ansiedade, medo, decepção são esperados e podem interferir negativamente durante o seu tratamento. Se possível, procure apoio de um psicólogo. É muito importante você poder falar sobre o que está sentindo.

> Evite aglomerações, lugares sem ventilação e contato direto com pessoas resfriadas e/ou gripadas.

> Antes de iniciar o tratamento, consulte-se com o dentista a fim de prevenir possíveis complicações na região da boca.

> Fique atento às mudanças no seu corpo ou sensações de desconforto. Não espere desenvolver um resfriado ou gripe forte para conversar com o seu médico.

> Não deixe de alimentar-se. Mas evite comer fora de casa e ingerir alimentos que foram manipulados por outra pessoa.