Médicos sem residência

Dentre os médicos formados entre 1996 e 2005 (79.877) no país e com registro da formação na Comissão Nacional de Residência Médica e no CFM (Conselho Federal de Medicina), apenas 36,4% (29.075) cursaram residência médica. O restante atua sem especialização.

Os números são fruto de um cruzamento de dados do CFM, no levantamento sobre o perfil do médico realizado pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), divulgado anteontem.

O cruzamento de dados também permitiu verificar que, dentre os médicos em atividade no Estado formados entre 1996 e 2005, 39% cursaram residência.

O número restrito de vagas em programas de Residência, bem como a abertura de novos cursos de Medicina – atualmente, 31 faculdades formam 3 mil médicos por ano – são apontadas por médicos e residentes entrevistados pela Gazeta como as principais causas do baixo número de especializações.

A residência, que completou 30 anos de atividade no país em 2007, não é obrigatória. Entretanto, é o melhor caminho para a formação de médicos especialistas, na avaliação do Cremesp.

Para ingressar num programa de residência, após formado o médico deve prestar uma prova. É como um segundo vestibular, onde há poucas vagas para muitos concorrentes: a especialização em Clínica Médica do HC (Hospital das Clínicas) de Ribeirão, por exemplo, recebeu este ano 229 candidatos para 19 vagas.

Segundo o Cremesp, atualmente há 4.500 médicos residentes no Estado, divididos em 43 instituições – universidades estaduais, instituições públicas estaduais e privadas conveniadas pela Secretaria de Estado da Saúde.

Em Ribeirão, três instituições oferecem o programa de residência: HC, Santa Casa e Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto). Este ano, o HC abriu 122 vagas em 18 programas de especialização. Já a Santa Casa, 23 vagas em nove especializações e a Unaerp, 20 vagas para sete especializações.

O médico sem residência é formado pela faculdade como generalista, embora possa atuar normalmente em qualquer campo da Medicina. Entretanto, as próprias sociedades médicas do país não permitem que eles atuem em determinadas atividades. A cirurgia plástica é uma delas, segundo Marcelo Di Bonifácio, presidente da Comissão de Residência Médica da Santa Casa.

“Um médico com residência certamente é melhor preparado na área. A especialização torna o médico apto com qualidade com mais rapidez”, afirma.

Segundo ele, um médico recém-formado não está apto a realizar cirurgias cardíacas, neurocirurgia, cirurgia plástica ou gastrocirurgia, por exemplo.

“O médio generalista tem o conhecimento do básico. Boa parte dos que não fazem residência acabam fazendo plantões ou assumem postos de saúde em cidades pequenas”, afirma Di Bonifácio.

Segundo Luiz Carlos Alves de Sousa, coordenador do curso de Medicina da Unaerp, médicos sem residência acabam não fazendo parte do mercado de trabalho. “É médico de porta de hospital, que faz um atendimento primário. Não entra nem em convênios médicos grandes se não tiver o título de especialista”, afirma.

São Paulo atrai mais

São Paulo é o estado que mais atrai médicos para cursos de residência Médica. Segundo o Cremesp, dos 79.877 que compõem a base de dados do CFM, 20.158 nasceram no Estado – destes, 43% cursaram residência, dos quais 92% em São Paulo.

Dos 29.075 médicos que têm Residência no país, 41% cursaram a especialização no Estado e 10.539 estão inscritos no Cremesp, ou seja, trabalhando aqui.

Raquel Carvalho, 29, está terminando a residência em geriatria no HC. Natural do Ceará, ela afirma que aquele estado não oferece especialização na área – o que significa que lá, o campo de trabalho em geriatria é melhor. “Já estou com a passagem pronta para voltar para o Ceará no final do ano. Lá faltam profissionais especializados em geriatria”, afirma.

Ana de Oliveira Parada, 26, está finalizando a especialização em clínica médica para partir para a nutrologia, já no ano que vem. De Brasília, ela afirma que o campo de atuação no Estado é maior e que, com a residência, poderá ter acesso a melhores recursos e conquistar espaço no mercado de trabalho.

O levantamento do Cremesp apontou que o local de residência é fator de fixação profissional: 98% dos que cursaram a Residência no Estado estão atuando com registro no Cremesp.

A concentração de médicos no Estado, que conta com 92.517 segundo o Cremesp, pode ser observada em Ribeirão: é a terceira cidade com o maior número de médicos por habitante. Atualmente são 5,70 médicos a cada mil habitantes, equivalente a 3.192 médicos em 2007, segundo o Cremesp.

Texto de: Gabriela Yamada
Fonte: Gazeta de Ribeirão