Médicos modificam orientações para diagnóstico do Alzheimer

Depois de 27 anos, médicos da Associação Americana de Alzheimer revisaram as normas e modificaram as orientações para o diagnóstico de Alzheimer. Quatro artigos publicados nesta terça-feira (19) na revista científica Alzheimer’s and Dementia recolhem os avanços das últimas décadas no conhecimento da doença.

As principais mudanças foram a diferenciação do Alzheimer em três estágios, que vão da ausência completa de sintomas à demência, passando por comprometimentos cognitivos leves. Os novos critérios também pretendem impulsionar as pesquisas clínicas de medicamentos, especialmente para as fases iniciais da doença.

Segundo William Thies, da Associação Americana de Alzheimer, responsável pela revisão das diretrizes, as mudanças não impactarão a prática clínica no curto prazo.

– Não existe nenhum teste novo que deva ser solicitado por enquanto. No entanto, vai ajudar um grande número de estudos clínicos promissores que são realizados atualmente.

Até agora, as terapias disponíveis no mercado estavam voltadas apenas para a fase da demência, quando a doença já se estabeleceu. E, mesmo assim, apresentam resultados tímidos, diminuindo a velocidade das perdas cognitivas sem impedir seu progresso inevitável.

Um dos artigos trata exclusivamente do uso de biomarcadores no diagnóstico da doença: a procura por substâncias no organismo que denunciem a evolução silenciosa do Alzheimer. Alguns exames, por exemplo, identificam os níveis das proteínas betaamiloide e tau, associadas à doença, no liquor – líquido extraído da medula do paciente.

No Brasil, por exemplo, há laboratórios que cobram de R$ 2 mil a R$ 3 mil por um exame desse tipo. Contudo, os autores do estudo sublinham que, por enquanto, tais testes não são úteis para orientar condutas clínicas.

Por enquanto, um diagnóstico precoce da doença – antes de aparecerem os sintomas – não serviria para nada, pois não há uma terapia adequada, diz Ivan Okamoto, diretor científico da Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer) e coordenador do Instituo da Memória, da Unifesp.

– Você pode criar um monstro. Além da angústia para o paciente, surge um dilema ético clínico: vou fazer o que com esse novo dado?

Wagner Gattaz, do Instituto de Psiquiatria da USP (IPq-USP), revela que, nas próximas semanas, seu grupo de pesquisa publicará dados promissores sobre o uso do lítio para evitar que pessoas com comprometimento cognitivo leve evoluam para demência.

– Com diagnósticos mais sensíveis e precoces, será possível recorrer a esta técnica.

Okamoto afirma que a Associação Brasileira de Neurologia e a Abraz pretendem se reunir em maio para discutir as diretrizes nacionais de Alzheimer. Os resultados saem em junho.

– Vamos levar em conta as novas diretrizes.