Maioria dos médicos de SP não fez residência

Atrás apenas da Índia, o Brasil tem hoje 166 cursos de medicina autorizados pelo Ministério da Educação (MEC). Agora, o resultado da abertura desses cursos começa a mostrar seus resultados. Mais da metade (61%) dos médicos formados entre 1996 e 2005 – inscritos no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) – não fizeram curso de residência médica. No Brasil, esse índice sobe para 64%.

Os dados são do próprio Cremesp, que traçou o perfil dos médicos em atividade no Estado. O presidente da entidade, Henrique Gonçalves, culpa a falta de vagas nas residências pelo alto índice de profissionais sem essa formação.”O ideal seria haver uma vaga para cada formando”, diz.

O problema, segundo ele, é causado por dois fatores: o crescimento cada vez maior do número de profissionais e o grande número de médicos de outros Estados cursando as residências paulistas. Atualmente, há 4,5 mil residentes em São Paulo, dos quais 19% são de outros Estados.

A falta de formação adequada também impede que muitos consigam ingressar em uma das 22 mil vagas oferecidas em programas de residência médica no Brasil e acabam relegados aos piores empregos. O levantamento revela uma realidade cruel para esses profissionais e para a população. “Sem a residência, a formação fica incompleta e, como conseqüência, há a dificuldade para exercer a profissão”, diz Gonçalves. “Eles não podem atuar em todos os ramos da Medicina e, se trabalharem em uma área mais específica, correm risco muito maior de cometer erros.”

A partir de 2001, o Cremesp registrou um salto no número de registros de novos médicos. Até então, eram cerca de 2,3 mil por ano. De lá para cá aumentou para mais de 3 mil anuais. Nos últimos seis anos, apenas em São Paulo, oito faculdades foram abertas, totalizando 31 no Estado. Como esses cursos ainda não formaram nenhum aluno, o número de médicos sem residência pode ser ainda maior no futuro.

“Nenhum médico com seis anos de formação consegue dominar a profissão com qualidade e segurança”, afirma Gonçalves.

De acordo com presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), José Luiz Gomes do Amaral, os dados são preocupantes. “É um número absurdamente

alto”, diz. “Na Europa e nos EUA, a graduação não é um curso terminal. Obrigatoriamente é sucedida pela residência.” O secretário-executivo da Comissão Nacional de Residência Médica, órgão do MEC, Antônio Carlos Lopes, concorda com o problema causado pela abertura de cursos de Medicina, mas contesta o índice apresentado pelo Cremesp. Segundo ele, entre 60% e 65% dos profissionais fazem residência no País. A tendência, no entanto, é que sejam cada vez menos. “Com esse número de escolas (de Medicina), as vagas nos cursos de residência não vão crescer na mesma proporção.”

De acordo com Lopes, o maior problema para o ingresso desses alunos não está no número de vagas, mas na distribuição e procura desses cursos. Segundo ele, só 19 mil das 22 mil vagas oferecidas Brasil são preenchidas. “Temos cerca de 150 bolsas ociosas todos os anos. Elas são redistribuídas principalmente no Sul e Sudeste, onde existe maior procura.”

FONTE:O Estado de S.Paulo