Ginecologia e obstetrícia, o temor dos alunos

O excesso de profissionais e o aumento de processos judiciais por supostos erros médicos têm feito com que algumas especialidades médicas tenham baixa procura. É o caso de ginecologia e obstetrícia, que nos últimos anos não tem atraído os estudantes de Medicina. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), a queda pela especialidade atinge mais de 50%.

Essa redução na procura, afirma o coordenador do Programa de Residência Médica em Tocoginelogocia da UFPR, Almir Antonio Urbanetz, é um fenômeno que ocorre em todo o País. Ele atribui isso ao temor de processos judiciais ou éticos, bem como pela procura que a especialidade sempre teve no passado, lançando um grande número de profissionais no mercado.

Hoje, a concorrência pela especialidade na residência médica da UFPR é de uma média de 5 candidatos por vaga, enquanto que para a especialidade de dermatologia a proporção é de 42 candidatos por vaga, e em neurocirurgia de 35 candidatos por vaga.

O presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM) do Paraná, Hélcio Bertolozi Soares, disse que os principais problemas da especialidade são os imprevistos que podem ocorrer durante o parto.

“Muitas vezes a paciente tem uma gestação tranqüila, recebe toda a orientação e acompanhamento médico necessário, mas na hora do parto sofre uma hemorragia, que é algo que não se pode prever com antecedência. Como o impacto é muito grande, o médico acaba sempre sendo penalizado. Por isso os recém-formados estão procurando áreas com menos risco”, comentou.

Seguro

Aliado a isso, o trabalho assistencial é intenso e a remuneração pouco atraente. Segundo Soares, o Sistema Único de Saúde (SUS) paga cerca de R$ 100 por um parto normal, cujo procedimento leva até cinco horas para ser realizado.

Outro fator são os plantões médicos que, na grande maioria das vezes, obriga o profissional a sacrificar sua vida particular. Por isso muitos obstetras estão se especializando em radiografia ginecológica, onde os riscos são menores e os plantões mais maleáveis.

E a preocupação em relação aos processos e pedidos de indenização por supostos erros médicos também ocorre em outros países. Nos Estados Unidos os médicos se obrigam a pagar seguro.

O Chefe do Departamento de Tocoginecologia da UFPR, Mauri José Piazza, comenta que naquele país os pedidos de indenização na área de ginecologia e obstetrícia ultrapassam US$ 250 mil por ano. Ele disse que no Brasil alguns profissionais também já pensam em fazer seguro para poder cobrir possíveis indenizações.

CRM-PR recebe grande número de denúncias

O Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) recebeu no ano passado 490 denúncias contra procedimentos médicos no Estado – em 2004 foram 320 denúncias e em 2003, 432. Desse total, um teve a suspensão do exercício profissional por 30 dias, e três foram cassados. O conselho da categoria considera esse aumento natural devido ao grande número de médicos que se formam no Brasil todos os anos.

Segundo o presidente do CRM-PR, Hélcio Bertolozi Soares, em 1970 existiam três mil médicos no Brasil. Hoje, esse número passa de 14 mil. Ao todo, 156 escolas de Medicina formam profissionais todos os anos, e somente em Curitiba existe um médico para 220 habitantes, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um médico para mil habitantes. “Cada vez mais as pessoas estão tendo conhecimento do que é cidadania, e quando a relação entre médico e paciente não fica esclarecida, elas buscam mais esclarecimentos”, explicou.

Além da área de ginecologia e obstetrícia, a cirurgia plástica também tem gerado um grande número de reclamações no CRM. De acordo com Soares, os profissionais que atuam nessa área precisam esclarecer os pacientes que muitas vezes a transformação de um rosto ou corpo perfeito não acontece. Nesse sentido, ele acrescenta que a relação entre as partes precisa ser muito clara, e o paciente precisa exigir do médico um diagnóstico, riscos aparentes, objetivos do tratamento, e todas as outras informações que possam trazer esclarecimentos antes de qualquer procedimento. (RO)

Fonte: Parana-Online