Exame Nacional de Oftalmologia

Como medir da melhor forma possível o conhecimento de um médico que pretende obter o título de especialista em oftalmologia?

A cada ano, essa pergunta transforma-se no grande desafio de dezenas de professores e profissionais ligados à Comissão de Ensino do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Esse grupo vem acumulando experiências e massa crítica na realização daquela que já vem sendo considerada uma das melhores provas do tipo entre as sociedades filiadas à Associação Médica Brasileira (AMB) e que já serve como modelo para a realização de provas de capacitação em oftalmologia para sociedades ligadas à Associação Pan-Americana de Oftalmologia.

Mas nem sempre foi assim. “A Prova Nacional de Oftalmologia é o último elo do processo de formação de especialistas e compreende uma complexa cadeia de decisões e ações que envolvem centenas de pessoas e várias instituições, exigindo planejamento de no mínimo um ano. Quem participa da prova ou quem examina sua aplicação sem ter participado do processo de planejamento, preparação e execução não consegue visualizar os meses de intenso trabalho e anos de experiências acumuladas necessários para a sua concretização”, afirma o coordenador da Comissão de Ensino do CBO, Paulo Augusto de Arruda Mello.

Histórico
O Conselho Brasileiro de Oftalmologia foi criado em 1941 para a emissão de títulos de suficiência em oftalmologia. Os primeiros títulos foram emitidos àqueles que conseguiram provar que exerciam a especialidade através de documentos ou testemunhos. Não tinham nenhum valor legal oficial e representavam o esforço e a vontade das lideranças da oftalmologia de então em valorizar o ensino e a especialização.

A situação foi se tornando mais complexa e, nas décadas de 40, 50 e 60 do século passado, surgiram cursos destinados ao ensino de médicos que já haviam terminado suas respectivas graduações e queriam se especializar em oftalmologia. Esses cursos surgiram em São Paulo (na Santa Casa/Universidade de São Paulo e na Escola Paulista de Medicina), em Minas Gerais (Hospital São Geraldo) e, em seguida, em vários outros estados.

Em 1956 foi fundada a Associação Médica Brasileira, que, alguns anos depois, também passou a emitir títulos de suficiência para os especialistas. Criou-se então uma desconfortável situação em que duas entidades, ambas sem qualquer vínculo com o governo, emitiam títulos semelhantes.

Nos últimos anos, a Prova Nacional de Oftalmologia tem passado por uma série de alterações que não têm o propósito de tornar a prova mais difícil ou dificultar o acesso ao título de especialista, mas medir melhor o conhecimento daqueles que se propõem a exercer uma especialidade médica cujo grau de complexidade vem crescendo em termos exponenciais.

Até 2007, a prova era aplicada em várias capitais brasileiras. Por questões de logística, em 2008 optou-se pela aplicação apenas em São Paulo e Brasília. Os resultados da Prova Nacional de Oftalmologia são tabulados, e os cursos cujos alunos obtiverem os maiores índices de reprovação por dois anos consecutivos são vistoriados pela Comissão de Ensino do CBO e, caso os problemas encontrados não sejam sanados, os cursos correm o risco de descredenciamento.

A Prova sempre foi elaborada com questões enviadas pelos coordenadores dos cursos de especialização credenciados pelo CBO. Nos últimos anos, a Comissão de Ensino da entidade determinou que as questões enviadas passassem pelo crivo de uma comissão de profissionais especializados contratados para este fim. Além disso, o número de questões foi aumentando a cada edição da prova para abranger todos os campos da especialidade e em 2008 houve significativo aumento do número de questões relacionadas com o conhecimento básico de medicina e de oftalmologia (anatomia, fisiologia, citologia, farmacologia etc.).

No processo de elaboração da Prova há ainda a análise prévia das questões executada por uma comissão de professores de várias regiões do país. Verifica-se o conteúdo quanto à importância no exercício da oftalmologia e o seu grau de dificuldade.

Para o futuro, as discussões voltam-se para a medição das habilidades médicas, clínicas e cirúrgicas, um quadro que apresenta desafios consideravelmente maiores do que os já complicados problemas envolvidos na medição dos conhecimentos.

O desenvolvimento da qualidade das Provas é uma preocupação constante das Comissões de Ensino e das Diretorias do CBO e hoje seu modelo é seguido por vários países da América Latina.

“Toda essa evolução não é arbitrária, mas fruto de trabalho e discussões que envolvem as sucessivas diretorias do CBO, os integrantes da Comissão de Ensino da entidade, coordenadores e professores dos cursos de especialização e dezenas de profissionais de todo o Brasil, sempre com o propósito de avaliar da melhor forma e valorizar o máximo possível o título de especialista em oftalmologia”, conclui Paulo Augusto de Arruda Mello.