DNA humano carrega herança de vírus pre-histórico, aponta estudo

Traços de vírus antigos que infectaram nossos ancestrais há milhões de anos são mais comuns e disseminados em nós do que se pensava anteriormente, aponta um estudo de cientistas americanos e europeus. A pesquisa, publicada no jornal Proceedings of the National Academy of Sciences, mostra que ainda conservamos material genético da era dos dinossauros e abre novos caminhos para os estudos do DNA humano.

Os cientistas estudaram os genomas de 38 mamíferos, incluindo humanos, roedores, elefantes e golfinhos. Um dos vírus invasores do DNA foi encontrado no genoma de um ancestral que viveu há cerca de 100 milhões de anos, e resquícios desse microrganismo foram achados em praticamente todos os mamíferos estudados. Um outro vírus infectou um primata, e assim foi encontrado em macacos, humanos e outros primatas.

O trabalho concluiu que muito desses vírus perderam a habilidade de se transferir de uma célula para a outra. Em vez disso, evoluíram e desenvolveram a habilidade de permanecer na mesma célula, ficando toda sua vida no mesmo local.

Os pesquisadores encontraram evidências de vírus se proliferando tão intensivamente entre os genomas dos mamíferos que compararam com uma doença epidêmica. De acordo com Robert Belshaw, do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford, uma das instituições que conduziram o estudo, disse que se trata de uma epidemia dentro do genoma dos animais que continua até hoje.

Suspeitamos que esses vírus são forçados a fazer uma escolha – ou mantêm sua essência viral e se espalham pelos animais e outras espécies, ou se comprometem com um genoma e se disseminam dentro dele, explicou.

O estudo mostra que os vírus envolvidos perderam o gene Env, responsável pela capacidade de se transferir entre células. Conhecidos como retrovírus endógenos, esses microrganismos tornaram-se 30 vezes mais abundantes que suas células hospedeiras.

Segundo Belshaw, essa espécie de vírus não tem efeitos óbvios ou diretos sobre a saúde, mas ele prefere não tirar conclusões precipitadas. Pode haver efeitos que não estamos enxergando ou coisas das quais poderíamos até tirar vantagem se detectássemos retrovírus em atividade como resultado de uma infecção cancerígena, conclui.