Desvendando a Polissonografia na apneia obstrutiva do sono

CardioAula - Médico escrevendo coração de ECG

A Polissonografia é o exame padrão ouro para o diagnóstico de apneia obstrutiva do sono (AOS) e demais distúrbios do sono. Idealmente ela deve ser realizada no Laboratório do sono durante a noite toda com o acompanhamento de um técnico especializado (registro tipo 1), entretanto, além da Polissonografia do tipo 1 outros tipos de monitorização ambulatorial ou domiciliar com menos canais podem ser utilizados para o diagnóstico da AOS.

A interpretação da Polissonografia deve seguir a avaliação de diversos parâmetros que, além de definirem o diagnóstico dos distúrbios do sono, principalmente da AOS, possibilitam a compreensão da qualidade do sono do paciente. Vamos discutir os principais parâmetros que devem ser avaliados em uma Polissonografia tipo 1.

A eficiência do sono é a relação entre o tempo que o paciente ficou na cama e o tempo real de sono, varia de acordo com a afixa etária mas o ideal é que esteja acima de 85%. A latência normal para o início do sono (tempo em apagar as luzes e o início do sono) é de 30 minutos. O índice de despertares representa a quantidade de despertares que ocorrem a cada hora de exame sendo considerado normal abaixo de 10 evetos/hora.

O sono é dividido em quatro fases cíclicas, avaliadas na Polissonografia como porcentagens de ocorrência na noite. Esta alternância de fases é conhecida como arquitetura do sono e é representada graficamente nos exames pelo hipnograma. O sono NREM que inclui os estágios N1, N2 e N3 constitui cerca de 85% do sono total e é considerado um estado de relaxamento cardiovascular. Nesse período a frequência cardíaca, a pressão arterial, a atividade do sistema nervoso simpático, o débito cardíaco, o metabolismo e a resistência vascular sistêmica caem, enquanto a atividade vagal aumenta. Há também relaxamento muscular, porém, mantém-se sempre alguma tonicidade basal, e a respiração e o eletrocardiograma permanecem regulares nessa fase. Já o sono REM abrange apenas 20-25% do sono total e é caracterizado pela presença de movimentos oculares rápidos. Ele é conhecido por seus aspectos paradoxais como: presença de hipotonia e atonia musculares associada à presença de movimentos fásicos e mioclonias multifocais e emissão de sons. Descargas simpáticas e aumentos intermitentes da FC e da PA ocorrem no sono REM, no entanto, esses eventos não elevam a FC ou a PA média acima dos valores habituais da vigília. O sono REM também é caracterizado pela presença de sonhos e dificuldade de se despertar (estágio profundo do sono).

O principal parâmetro a ser avaliado na Polissonografia é o índice de apneia hipopneia. Este índice reflete a quantidade de eventos respiratórios observados por hora de exame e é o valor utilizado para o diagnóstico de apneia obstrutiva do sono (AOS). Valores abaixo 5 eventos/hora são considerados normais, entre 5 e 15 eventos/h é diagnóstico de AOS leve, entre 15 e 30 eventos/h de AOS moderada e > 30 eventos/h de AOS grave. O número de eventos e acompanhado de laudo de uma descrição se o predomínio é de eventos obstrutivos ou centrais. Os demais parâmetros respiratórios descritos são a saturação de oxigênio basal e o valor mínimo de saturação ou nadir.

Outros dados que, em geral, estão presentes nos laudos de forma descritiva e que auxiliam o médico a entender o sono do seu paciente são: presença de roncos, de movimentos de membros inferiores, de bruxismo e de comportamentos anormais durante o sono.

Enfim, a Polissonografia é um exame diagnóstico para AOS, entretanto, traz diversas informações a mais sobre a qualidade do sono do paciente e outros distúrbios do sono que acontecem eventualmente de forma concomitante.

Dra. Adriana Bertolami

Médica da Seção de Dislipidemias e Coordenadora do Laboratório do Sono do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia