Cientistas concluem primeira análise genética do carcinoma pulmonar

Estudo pode abrir portas para melhorar a prevenção, a detecção e o tratamento da doença

A primeira análise genética abrangente do carcinoma pulmonar de células escamosas acaba de ser feita por pesquisadores americanos. Esse câncer é um tipo de tumor pulmonar comum, relacionado ao fumo, e que causa cerca de 400.000 mortes ao ano. A pesquisa pode ajudar a melhorar a prevenção, a detecção e o tratamento da doença, já que as drogas usadas hoje para o tratamento de outros tipos de câncer pulmonar (como o adenocarcinoma) não são eficazes para o carcinoma de células escamosas. Pela similaridade genética, os pesquisadores acreditam ainda que as drogas usadas para tratar outros tipos de tumores de células escamosas, como os de cabeça e de pescoço, podem ser eficientes no tratamento deste tipo de câncer pulmonar. O estudo foi publicado na versão online do periódico Nature.

“Descobrimos que quase 75% dos cânceres pulmonares de células escamosas têm mutações que podem ser atacadas com drogas existentes – comercialmente disponíveis ou ainda em fases de testes clínicos”, diz Ramaswamy Govindan, um dos coordenadores do estudo, oncologista da Universidade de Washington e co-presidente do grupo The Cancer Genome Atlas. Isso porque essas drogas, normalmente usadas em tumores localizados em outros órgãos, usam como alvo de ataque mutações genéticas comuns a alguns cânceres de células escamosas.

Na pesquisa, descobriu-se que o câncer pulmonar de células escamosas tem mutações similares aos carcinomas de células escamosas que atingem a cabeça e o pescoço. A descoberta corrobora evidências de pesquisas anteriores que apontam que o câncer pode ser classificado por sua genética, e não pelo órgão primário que afeta. Isso indica que drogas usadas no tratamento desses cânceres do pescoço e da cabeça, por exemplo, poderiam vir a ser usadas também para o câncer pulmonar.

“Encontramos mutações no câncer do pulmão que vemos também em outros tipos de cânceres humanos”, diz Richard K. Wilson, diretor do Instituto de Genoma da Universidade de Washington. “Isso reforça algo que temos visto na nossa pesquisa. Trata-se muito menos do tipo de tecido, como pulmão, mama, pele, e muito mais de quais genes e vias que são afetadas.”

Pesquisa – Foram examinados tumores e tecidos de 178 pacientes com carcinoma pulmonar de células escamosas. Os pesquisadores encontraram mutações recorrentes em 11 genes que eram comuns em muitos pacientes . Quase todos os tumores tinham mutações no gene chamado TP53, conhecido por seu papel na reparação do DNA danificado.

Os tratamentos atuais para o câncer pulmonar de células escamosas incluem quimioterapia e radiação. Não existem, no entanto, drogas específicas para esse tipo de tumor. “Com essa análise, estamos apenas começando a compreender a biologia molecular do carcinoma pulmonar de célula escamosa”, diz Govindan. “Identificamos alvos potenciais para terapias a serem estudadas em futuros testes clínicos.”

O The Cancer Genome Atlas é um projeto que combina esforços dos principais centros de sequenciamento genético dos Estados Unidos. O grupo é financiado pelo Instituto Nacional do Câncer e pelo Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano – ambos fazem parte do Instituto Nacional de Saúde, dos Estados Unidos.

FONTE: Veja.com