Cardiomiopatia hipertrófica e atividade física

CardioAula - Cardiomiopatia hipertrófica e atividade física

Recentemente vimos o caso de um jogador de futebol que foi afastado da atividade profissional devido ao diagnóstico de Cardiomiopatia Hipertrófica (CMH). Hoje falaremos da importância do diagnóstico e a implicância do mesmo na atividade física.

O que é a Cardiomiopatia Hipertrófica (CMH)

 A cardiomiopatia hipertrófica é uma doença primaria do miocárdio, apresentando uma prevalência estimada em 1/500 pessoas. É autossômica dominante, (já foram identificadas mais de 1700 mutações genéticas relacionadas a proteínas contráteis!!), caracterizada por desarranjo miofibrilar, que determina hipertrofia ventricular esquerda, a qual pode gerar ou não obstrução na via de saída do ventrículo esquerdo (VE), sendo esta hipertrofia não explicada por doenças sistêmicas (hipertensão arterial sistêmica, doença valvar).

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E….por que é importante o diagnóstico em atletas?

 A importância radica que esta patologia é uma das causas mais comuns de morte súbita em atletas jovens, sendo em registros americanos considerada a primeira causa. E o exercício pode ser o gatilho para desencadear arritmias como fibrilação atrial com risco cardioembólico, taquicardia ventricular sustentada (TVS), taquicardia ventricular não sustentada (TVNS), aumento da obstrução da via de saída do VE, isquemia (fibrose), ou até mesmo morte súbita como comentado anteriormente.
 A incidência de morte súbita é maior em esportes de alta intensidade como basquete, futebol, natação, assim como a idade também se apresenta como fator de risco (idade média nos estudos americanos de morte súbita em atletas foi de 17 anos).
 A maioria dos atletas são assintomáticos, onde a alteração eletrocardiográfica pode ser a única manifestação inicial. Sintomas como sincope, palpitações ou angina podem estar presentes.

Como realizar o diagnóstico?

 O eletrocardiograma é anormal em 95% dos casos. Alterações como qrs alargado, inversão da onda T na região ínfero lateral, depressão do segmento ST assim como presença de onda q patológicas. (Q encontradas em atletas não patológicas são aquelas com tamanho ≥ 3 a 4 mm, mas com amplitude menor do que um quarto da onda R e duração < 0,04 s), nos devem chamar atenção para prosseguir investigação. O eletrocardiograma anormal precede em muitos anos a alteração cardíaca estrutural.
 O diagnóstico é caracterizado por hipertrofia da parede ventricular de qualquer segmento > 15mm (diástole final) seja pelo ecocardiograma ou pela ressonância magnética cardíaca. Na presença de história familiar ou teste genético positivo, valores entre 13-15 mm são considerados como diagnóstico.
 O ecocardiograma oferece outras informações como avaliação no gradiente e obstrução da via de saída do VE, o movimento sistólico anterior mitral, assim como a função diastólica, fator importante na hora de diferenciarmos esta patologia com o coração do atleta. Este exame sempre deve ser realizado em familiares de primeiro grau de pacientes com diagnóstico de CMH.
 A ressonância é importante em todo atleta com suspeita de CMH, seja por alteração eletrocardiográfica, presença de sintomas, história familiar, espessamento da parede ventricular ou em regiões de difícil visualização ao ecocardiograma como as regiões apical ou anterolateral. Informação adicional importante que este exame nos fornece é a visualização e quantificação da fibrose miocárdica, que se apresenta sem relação com anatomia coronariana, e está associada a maior risco de morte súbita (valores acima de 15%). Ou seja, a presença de fibrose é importante para melhorar a estratificação de risco destes pacientes, e pode ser considerada no momento da avaliação para implante de cardiodesfibrilador implantável (CDI).
 Holter e Teste Cardiopulmonar: presença de sintomas, ou arritmias como TVNS, alteração eletrocardiográfica ao teste cardiopulmonar como depressão ST ou inversão da T assim como ausência de elevação da PAS < 20mmHg ou consumo de O2 menor ao predito (<84%) são a favor do diagnóstico de CMH. Quando é recomendado fazer teste genético

 Sequenciamento genético em pacientes com diagnóstico clínico de CMH (caso índice ou probando) (IB).
 Avaliação da presença de mutação específica em familiares diretos (em cascata) de pacientes com diagnóstico de CMH IB.
Vimos de modo didático e protocolado como fazer o diagnóstico de CMH…no próximo artigo vamos avaliar quando considerar como patológica a hipertrofia ventricular encontrada em um atleta de alta performance…Até a próxima.

Dr. Horacio Eduardo Veronesi

– Formado em Medicina pela Universidad Nacional de Rosario (Arg)
– Residência em Cardiologia pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (SP)
– Residência em Ecocardiografia pelo Instituto Nacional de Cardiologia (RJ)

Referências:

1. Ghorayeb, Nabil, et al. “The Brazilian Society of Cardiology and Brazilian Society of Exercise and Sports Medicine Updated Guidelines for Sports and Exercise Cardiology-2019.” Arquivos brasileiros de cardiologia 112.3 (2019): 326-368.
2. P. ZD, S. LM, J. AM, J. KR, J. MR, Mark ENA. Eligibility and Disqualification Recommendations for Competitive Athletes With Cardiovascular Abnormalities: Task Force 9: Arrhythmias and Conduction Defects. Circulation [Internet]. 2015 Dec 1;132(22):e315-25. Available from: https://doi.org/10.1161/CIR.0000000000000245
3. Pelliccia A, Solberg EE, Papadakis M, Adami PE, Gerche L, Niebauer J, et al. Recommendations for participation in competitive and leisure time sport in athletes with cardiomyopathies , myocarditis , and pericarditis : position statement of the Sport Cardiology Section of the European Association of Preventive Cardiology ( EAPC ). 2019;19-33.
4. Elliott PM, Anastasakis A, Borger MA, Borggrefe M, Cecchi F, Charron P, et al. 2014 ESC Guidelines on diagnosis and management of hypertrophic cardiomyopathy. Eur Hear J. 2014;35(39):2733-79