Cardiomiopatia hipertrófica e atividade física – parte 2

Continuando o artigo anterior vamos avaliar quando a hipertrofia ventricular em um paciente atleta deve realmente ser considerada patológica e como devemos proceder.

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Mas toda hipertrofia no atleta deve ser considerada patológica?

 O atleta apresenta adaptações fisiológicas do sistema cardiovascular ao exercício, e dentre elas está a hipertrofia ventricular fisiológica ou “coração do atleta”. Nestes casos podemos observar geralmente hipertrofia com diâmetro não maior a 13mm, podendo apresentar valores de até 16mm em atletas de raça negra.
 Outra característica que diferença estes grupos é a localização da hipertrofia. Atletas apresentam um padrão concêntrico. Os pacientes com CMH, sejam atletas ou sedentários apresentam padrão assimétrico (septal assimétrico, apical).

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 No gráfico acima vemos dados que favorecem o diagnóstico de coração do atleta versus CMH, principalmente na presença de espessura miocárdica 13-16mm (chamada “zona cinzenta”).

Persistindo a dúvida podemos realizar o destreinamento físico com avaliação por ecocardiograma seriado após 3 meses, que demonstrará regressão da hipertrofia nos casos fisiológicos.

Existem fatores que aumentam o risco de para morte súbita e devemos sempre ter presentes na hora do tratamento (Tabela 1):

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E….devo suspender da atividade física no atleta com diagnostico de CMH?

 Atletas com diagnostico provável ou inequívoco de CMH devem ser excluídos da maior parte de esportes competitivos, com possível exceção de aqueles de baixo componente estático e dinâmico (golfe, bilhar, boliche ou tiro) em pacientes como baixo risco (principalmente na ausência de gradiente). Também não é recomendado a pratica de esportes recreativos com alta intensidade.
– Essa recomendação independe de idade, sexo, aparência fenotípica do atleta, presença ou não de sintomas, obstrução da via de saída do VE, tratamento com fármacos, ablação septal, uso de marca-passo ou de desfibrilador implantado.
 Fenótipo negativo e genótipo positivo podem participar de esportes sempre que avaliados em forma periódica (anualmente principalmente em indivíduos menores a 25 anos) a fim de monitorar a progressão para aparecimento do tipo fenotípico.

A Indicação de CDI difere nesta população?

 As indicações de implante de CDI não são diferentes da população geral, não devendo ser indicado o implante de CDI profilático como motivo para permitir a pratica esportiva de alta intensidade.
 Se lembramos deste caso clínico que foi discutido as indicações de implante de CDI: (Como vemos são maioria dos fatores de risco maiores para morte súbita demonstrados na tabela 1).

o Parada cardíaca previa ou TVS (Profilaxia secundaria)
Profilaxia primaria
o História familiar de MS
o Espessura de parede > 30 mm
o Sincope inexplicada
o TVNS
o Observação: Conforme Chan et al, a presença de fibrose miocárdica > 15% na Ressonância Magnética Cardíaca, estava associada a maior risco de morte súbita em pacientes considerados inicialmente como de baixo risco)

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Dr. Horacio Eduardo Veronesi

– Formado em Medicina pela Universidad Nacional de Rosario (Arg)
– Residência em Cardiologia pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (SP)
– Residência em Ecocardiografia pelo Instituto Nacional de Cardiologia (RJ)

Referências:

 Ghorayeb, Nabil, et al. “The Brazilian Society of Cardiology and Brazilian Society of Exercise and Sports Medicine Updated Guidelines for Sports and Exercise Cardiology-2019.” Arquivos brasileiros de cardiologia 112.3 (2019): 326-368.
 H. CR, J. MB, Iacopo O, J. PM, Egidy AG, Tammy H, et al. Prognostic Value of Quantitative Contrast-Enhanced Cardiovascular Magnetic Resonance for the Evaluation of Sudden Death Risk in Patients With Hypertrophic Cardiomyopathy. Circulation [Internet]. 2014 Aug 5;130(6):484-95. Available from: https://doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.113.007094
 Pelliccia A, Solberg EE, Papadakis M, Adami PE, Gerche L, Niebauer J, et al. Recommendations for participation in competitive and leisure time sport in athletes with cardiomyopathies , myocarditis , and pericarditis : position statement of the Sport Cardiology Section of the European Association of Preventive Cardiology ( EAPC ). 2019;19-33.