Apneia obstrutiva do sono para o cardiologista

CardioAula - Médico escrevendo coração de ECG

A apneia obstrutiva do sono (AOS) é caracterizada por episódios recorrentes de interrupção na respiração durante o sono decorrentes de colapso das vias aéreas na região da faringe. A AOS está presente em aproximadamente 24% da população geral mas é ainda mais frequente em pacientes cardiológicos podendo ocorrer em 60% dos indivíduos com insuficiência cardíaca e em 83% dos pacientes com hipertensão resistente. A AOS é considerada hoje um fator de risco cardiovascular estando extremamente relacionada à ocorrência de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca, diversas arritmias, hipertensão arterial, dislipidemias e aumento da resistência à insulina.

Alguns fatores são predisponentes ao aparecimento da AOS como por exemplo, a obesidade, principalmente do tipo central, o aumento da circunferência cervical, o sexo masculino, a idade avançada e algumas anormalidades craniofaciais. Alguns de seus sinais e sintomas são:

 Ronco

 Pausas respiratórias, tipo “engasgo”

 Sonolência excessiva diurna

 Prejuízo das funções cognitivas (concentração, atenção, memória) e função executiva

 Alterações do humor e libido

 Cefaleia matinal

Entretanto, é ainda uma doença bastante subdiagnosticada em nosso meio, em parte pois muitos dos pacientes não se queixam efetivamente destes sintomas, sendo assim extremamente importante que o médico questione estes pontos como parte da anamnese.

O diagnóstico de AOS é feito pela Polissonografia. Nela é definido o índice de apneia hipopneia (IAH), além da arquitetura do sono, que é a divisão entre as diversas fases do sono, da saturação de oxigênio, do índice de despertares entre outros dados que possibilitam não só o diagnóstico definitivo de AOS como também de outros distúrbios do sono.

O IAH é o determinante para o tratamento da AOS. É considerado normal o IAH abaixo de 5 eventos/hora. Entre 5 e 15 eventos/h é definido o diagnóstico de AOS leve, entre 15 e 30 eventos/h de AOS moderada e > 30 eventos/h de AOS grave. O tratamento é indicado para aqueles indivíduos com AOS leve na presença de sintomas e/ou comorbidades e para todos aqueles com AOS moderada e grave. Para todos os indivíduos com AOS é recomendado que sejam evitadas medicações que possam induzir ou piorar a AOS como benzodiazepínicos, narcóticos e também a ingesta de bebidas alcoólicas, além do controle adequado do peso. O tratamento cirúrgico é recomendado quando há obstrução nasal importante ou alterações craniofaciais. Nos casos de AOS leve e moderada os aparelhos intra-orais e exercícios orofaciais podem ser considerados. O CPAP (pressão positiva continua em vias aéreas) é o tratamento de escolha para a maior parte dos pacientes. O tratamento com CPAP tem grande impacto positivo sobre a qualidade de vida do paciente possibilitando diversos benefícios tais como a eliminação dos eventos respiratórios do sono, diminuição da fragmentação do sono, redução da sonolência diurna, melhora das funções neuropsíquicas, desempenho no trabalho, depressão, cefaleia matinal, e qualidade de vida além de possivelmente reduzir o risco de eventos cardiovasculares.

Assim, a AOS cada vez mais ganha espaço dentro da cardiologia, o que culminou recentemente com a publicação do Primeiro Posicionamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre o Impacto dos Distúrbios de Sono nas Doenças Cardiovasculares.

Dra. Adriana Bertolami

Médica da Seção de Dislipidemias e Coordenadora do Laboratório do Sono do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia